O Ministério da Defesa prepara nova resposta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ela será uma tréplica, terá caráter político e rebaterá os comentários dos técnicos do tribunal aos questionamentos feitos pela equipe do general Héber Portella a respeito de possíveis fragilidades nas urnas e na totalização eletrônica de votos.
Portella é o representante do Ministério da Defesa na Comissão de Transparência Eleitoral (CTE), criada em 2021, para aprimorar o sistema usado nas eleições de 2022. O novo documento deve ser apresentado na próxima reunião da comissão, marcada para o dia 20. Ele será baseado em trabalho do Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber) que procura, sobretudo, desfazer a ideia de incompetência e de erros grosseiros que os peritos do TSE apontaram no trabalho anterior dos militares.
Os peritos do ComDCiber dizem que possíveis erros cometidos por eles nos questionamentos aconteceram porque não receberam todas as informações sobre o sistema eleitoral nem sobre as metodologias. Lembram que, em outubro do ano passado, após a primeira reunião da CTE, solicitaram ao TSE o envio de mais de uma dezena de documentos sobre o sistema que não foram remetidos.
Também afirmam que pediram autorização para fazer questionamentos a fim de compreender o sistema. Até hoje, alega o ComDCiber, não houve reunião técnica, só a troca de documentos, seguida de interpretações políticas do TSE.
<b>IDEIAS</b>
Já a cúpula do Exército pretende reafirmar três ideias. A primeira é a de que as Forças Armadas colaboraram desde o começo com a CTE. Querem reiterar que não agiram politicamente nem se deixaram instrumentalizar pelo presidente Jair Bolsonaro. E pretendem mostrar competência técnica, arranhada pela resposta do TSE.
Diz ainda que a designação de Portella não ocorreu em razão de proximidade com o então ministro da Defesa, Walter Braga Netto, mas por ele chefiar a ComDCiber. Há no Exército a certeza de que não foi Portella o responsável pelo vazamento dos questionamentos feitos ao tribunal pelas Forças Armadas. Em janeiro, Bolsonaro usou esses dados em uma live. As suspeitas no caso recaem sobre Braga Netto, que recebera as informações de Portella, na condição de chefe.
<b>SIGILO</b>
Cogitado para ser vice na chapa de Bolsonaro, Braga Netto teria interesse de agradar ao chefe, apesar do compromisso assumido com o TSE de manter em sigilo os questionamentos técnicos. Os magistrados têm a mesma desconfiança. No Supremo Tribunal Federal, o uso político das informações feito por Bolsonaro foi considerado uma deslealdade.
Em resposta, a Força Terrestre procura mostrar não ter interesse em se ver arrastada para a política, principalmente diante do cenário eleitoral. O problema agora é saber se o documento que o Exército prepara sairá do terreno do diálogo entre peritos e se transformará em mais um lance da guerra aberta entre os Poderes.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>