Estadão

Combates perto de usina da Ucrânia acendem alerta para um vazamento nuclear

Conflitos entre tropas da Ucrânia e da Rússia ficaram mais intensos na noite deste domingo (28) nos arredores da usina nuclear de Zaporizhzhia, em risco em razão de constantes embates no seu entorno. A usina, que fica na cidade de Enerhodar, no sul, é controlada pelos militares russos, mas operada por engenheiros ucranianos. Segundo combatentes, os dois lados mantiveram a artilharia, mesmo com negociações em curso para que uma equipe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) visite a usina.

Os cientistas avaliariam danos físicos ao local, determinariam se os sistemas de segurança e proteção principal e de backup estavam operando e avaliariam as condições de trabalho da equipe ucraniana, informou a AIEA em comunicado.

A agência disse ainda que as negociações estão em andamento e os cientistas devem visitar a usina "nos próximos dias", observando que o bombardeio da noite de sábado "mais uma vez sublinhou o risco de um possível acidente nuclear". Desde que os combates se intensificaram em Enerhodar, projéteis já atingiram Zaporizhzhia, causando danos em equipamentos auxiliares e linhas de energia, mas não em seus reatores. Os ataques provocaram receio de um vazamento nuclear. No sábado, Ucrânia e Rússia trocaram acusações após novos conflitos nas proximidades da central nuclear. Conforme a operadora de energia estatal ucraniana, há o risco de haver uma "pulverização de substâncias radioativas". A central de Zaporizhzhia, a maior da Europa, foi ocupada pelas tropas russas nos primeiros dias da invasão à Ucrânia, que começou em 24 de fevereiro.

<b>TEMORES</b>

Em um sinal de crescente preocupação com uma possível liberação de radiação em um país ainda assombrado pelo desastre de Chernobyl em 1986, autoridades ucranianas anunciaram no sábado que o governo distribuiria iodeto de potássio, droga que pode proteger as pessoas contra intoxicações por radiação – a distribuição chegaria a moradores de um raio de 56 km da usina.

Funcionários da central nuclear e especialistas externos dizem que um ataque de artilharia comum não é capaz de penetrar no concreto armado de um metro de espessura dos vasos de contenção sobre os seis reatores, mas poderia danificar os complexos equipamentos de apoio ou provocar incêndios graves. Ataques de artilharia também podem romper contêineres menos robustos usados para armazenar rejeito nuclear da produção da usina.

Na quinta-feira, 25, combates destruíram uma linha elétrica de alta tensão e obrigaram operadores adotarem procedimentos de emergência para resfriar os núcleos do reator com bombas alimentadas por geradores a diesel. Pela primeira vez em sua história, a usina foi desconectada da rede elétrica para depois ser religada.

<b>FOGO CRUZADO</b>

Nos intensos combates de sábado à noite, conforme relatos das forças ucranianas, depósitos de munição e uma base militar russa foram atingidos por artilharia da Ucrânia. Já as forças russas dispararam foguetes contra a cidade de Nikopol, controlada pela Ucrânia, em frente à usina nuclear, no lado oposto do Rio Dnipro, que separa os dois Exércitos, disse o oficial militar ucraniano Valentin Reznichenko. Os ataques atingiram casas e carros e cortaram a eletricidade de 1,5 mil moradores, disse o oficial pelo Telegram.

Já o Ministério da Defesa russo disse que sua Força Aérea atingiu oficinas ucranianas onde helicópteros estavam sendo consertados na região de Zaporizka, segundo a agência de notícias estatal russa RIA Novosti. A informação não pôde ser verificada.

As forças ucranianas também relataram atingir alvos atrás das linhas russas em áreas ocupadas do sul da Ucrânia. Os militares relataram ter atingido dois depósitos de munição russos na cidade de Kherson. A retomada do município é um dos objetivos de uma contraofensiva ucraniana no sul, onde a usina nuclear, usada como fortaleza pelo Exército russo, é um obstáculo aos avanços ucranianos.

Na margem leste do Dnipro, uma grande explosão na madrugada de domingo sacudiu as janelas da cidade de Melitopol, controlada pela Rússia, disse o prefeito ucraniano exilado da cidade, Ivan Fedorov. A localidade é um centro de atividade de "guerrilheiros" ucranianos. (Com agências internacionais).

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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