Estadão

Comédia policial com drama

Jean-Paul Salomé iniciou-se no cinema como assistente de Claude Lelouch. Foi dirigente de associações de classe e, como tal, foi indicado pela categoria para integrar o júri da Caméra d Or no Festival de Cannes de 2007, do qual também participou o repórter do jornal O Estado de S. Paulo. Salomé possui uma diversificada, senão extensa, filmografia. Antes de A Dona do Barato dirigiu, entre outros, O Fantasma do Louvre, Arsène Lupin – O Ladrão Mais Charmoso do Mundo, a versão com Romain Durys, Contratadas para Matar e Se Fazendo de Morto.

Só para lembrar, O Fantasma do Louvre mostrava as confusões em que se metia Sophie Marceau ao ser possuída pelo espírito de uma múmia. Contratadas para Matar mostrava cinco mulheres, e uma delas era de novo Sophie, que precisavam resgatar um geólogo inglês para garantir o sucesso do desembarque dos aliados na Normandia.

Salomé adora essas personagens de mulheres fortes que se metem em confusões. A Isabelle Huppert de A Dona do Barato é mais uma delas. Tradutora de árabe da polícia – a personagem chama-se Patience, e se há uma coisa que não tem é paciência -, cria uma persona de traficante para ganhar dinheiro. Para isso, tem, de enganar o próprio amante, o chefe da divisão interpretado por Hippolyte Girardot.

Na entrevista, Isabelle deixa claro que adorou fazer o filme. Considera Patience uma de suas personagens mais interessantes. Uma mulher e suas máscaras. Esse tema do duplo – do disfarce – é perene no cinema de Salomé.

Talvez não seja um grande autor, mas faz filmes coerentes e divertidos. Não são só as mulheres (e suas máscaras) que o atraem, Arsène Lupin é outra prova de que o disfarce é essencial em seus filmes. Isabelle deixou subentendido para o repórter que A Dona do Barato diz muito sobre as divisões da França contemporânea, que já inspiraram grandes filmes como O Ódio, de Mathieu Kassovitz, há mais de 20 anos, e o recente Os Miseráveis, de Ladj Ly.

A diferença é de forma. Kassovitz e Ladj Ly apostaram na urgência e fizeram filmes explosivos. Salomé, mais comercial como opção estética, faz sua aposta na mélange. Mistura gêneros. O filme é uma comédia policial, como algumas que Claude Lelouch já amou fazer. Acrescenta suspense, toques de drama – a doença, a finitude, a morte. É um filme que Salomé talvez não pudesse fazer com outra atriz. Patience é, segundo a própria Isabelle, amoral. E, para que o filme funcione, é necessário que o público sinta empatia por ela.

É esperta, e não apenas. Isabelle possui esse segredo que faz dela uma das grandes atrizes do cinema. É, naturalmente, brechtiana, estabelecendo o distanciamento crítico em relação ao material. Estamos acostumados a vê-la fazer isso com Michael Haneke, Claude Chabrol, Paul Verhoeven.

Na entrevista, ela conta que está em Nova York em férias. É como se esse filme também fosse umas férias para ela. Mais leve, mas a mélange está toda lá. A corrupção, a violência, a falsidade. Para resumir, o estado do mundo. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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