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Comércio e clima estão no topo da agenda de Dilma nos EUA

Mergulhada na mais grave crise política e econômica desde sua chegada ao poder, a presidente Dilma Rousseff poderá ter uma das poucas boas notícias de seu governo a 6.500 km de Brasília. Na terça-feira, 30, a brasileira se reúne na Casa Branca com seu colega Barack Obama, o comandante da maior economia do mundo, que vive um momento oposto ao da brasileira, com popularidade em alta e desemprego em baixa.

A visita a Washington permitirá que Dilma projete a imagem de uma líder envolvida em debates globais e traga na bagagem a promessa de avanços em setores de interesse do setor privado. Entre eles, estão medidas de facilitação do comércio bilateral e a possibilidade de inclusão do Brasil no Global Entry, programa que acelera a passagem na imigração americana de pessoas dos países da lista que viajam com frequência aos Estados Unidos.

Além dos acordos, o que estará em jogo é a reconstrução da relação com o país que é a principal fonte de investimentos estrangeiros no Brasil e o maior destino das exportações nacionais de bens industrializados. A aproximação ensaiada no início do mandato de Dilma, em 2011, foi interrompida pela revelação de que a agência de espionagem americana, a NSA, monitorou comunicações da presidente brasileira.

O escândalo levou ao cancelamento da visita de Estado que a brasileira faria a Washington em outubro de 2013 e paralisou grande parte da cooperação entre os dois países. Com a desaceleração da China, o esgotamento do boom das commodities que impulsionou a economia brasileira em anos recentes e o agravamento da crise doméstica, Dilma foi forçada a mudar de posição e a buscar o estreitamento dos laços com Washington.

“A solução de muitos dos problemas que a presidente enfrenta passa por uma relação produtiva com os Estados Unidos”, disse Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute do Wilson Center. A tarefa mais urgente é o resgate da credibilidade do Brasil perante investidores internacionais, que a presidente buscará em uma série de encontros com representantes do mercado financeiro e CEOs na segunda-feira, em Nova York, primeira parada da brasileira em território americano.

A aproximação com os EUA também pode ajudar no enfrentamento de problemas estruturais do Brasil, principalmente nas áreas de educação e de ciência e tecnologia. Dilma encerra sua visita na Califórnia, capital mundial da inovação e sede de muitas das grandes companhias de tecnologia americanas. Seu último evento será no centro de pesquisas da Nasa, a agência espacial dos EUA, onde se encontrará com representantes de empresas do setor aeroespacial.

“A visita tem o potencial de ser extremamente importante para Dilma, que poderá voltar ao Brasil com anúncios relevantes nas áreas econômica e financeira”, avaliou Jason Marczak, diretor adjunto do Adrienne Arsht Latin America Center do Atlantic Council. “No meio do boom das commodities, não havia fortes razões para o Brasil aprofundar sua cooperação com os Estados Unidos. O cenário mudou e o País terá de alterar seu modelo econômico global.”

Comércio

Na estimativa de Sotero, dois terços da agenda de Dilma serão dominados por questões econômico-comerciais. Entre os anúncios, estará promessa de dobrar as vendas bilaterais nos próximos dez anos. Para isso, devem ser acordadas medidas de facilitação do fluxo de bens entre os dois países, que somou US$ 62 bilhões no ano passado, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento. Divergências na maneira de contabilizar os embarques fez com que a cifra americana fosse maior: US$ 73 bilhões.

O valor representa pouco mais de 10% do comércio dos Estados Unidos com a China – que atingiu US$ 590 bilhões em 2014. A corrente com o México somou US$ 534 bilhões no mesmo período. Representantes do setor privado americano e brasileiro pressionam para que os dois países iniciem negociações de um tratado de livre comércio, mas é pouco provável que isso esteja na agenda da visita.

Ben Rhodes, do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, disse na quinta-feira que a prioridades dos EUA é a Parceria Transpacífica (TPP), à qual Obama poderá se dedicar depois de o Congresso ter aprovado nesta semana o fast track – medida que lhe dá poder de negociar o acordo em bloco, sem possibilidade de emendas dos parlamentares.

O TPP é uma prioridade para o governo americano e estava ameaçado em razão da resistência de integrantes do próprio Partido Democrata, ao qual Obama pertence. Com a vitória do presidente na obtenção da autoridade de promoção comercial, o acordo de 12 países deverá sair do papel. Na avaliação de um integrante do governo americano, isso poderá aumentar a pressão para que o Brasil abandone as amarras do Mercosul e amplie sua integração com outros países. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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