Após mais de duas horas de discussão, os senadores da comissão especial do impeachment confirmaram a indicação do tucano Antonio Anastasia (MG) como relator do processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff na Casa. O mineiro foi indicado pelo bloco de Oposição, segundo maior bloco partidário do Senado, mas sofreu resistência dos governistas, que questionaram sua isenção, uma que já se manifestou publicamente favorável ao impeachment.
Desde esta segunda, 25, senadores da base fizeram questões de ordem pedindo a substituição de Anastasia. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), lavou as mãos e deixou a decisão para a comissão especial do impeachment. Como adiantou na segunda o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o presidente da comissão, Raimundo Lira (PMDB-PB), não tinha qualquer intenção de barrar a indicação de Anastasia.
Ao chegar à reunião, Lira confirmou que não havia “espaço” para discutir o nome do relator. Ele deu parecer contrário aos questionamentos levantados pelos governistas, mas permitiu que os demais senadores do colegiado votassem a decisão. Em clara minoria na comissão, os governistas foram derrotados. Apenas os quatro senadores do PT e a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) votaram contra a indicação de Anastasia.
Para o líder do governo, Humberto Costa (PT-PE), a “comissão começou mal”. “Não seria adequado termos um relator do PSDB, que patrocina essa causa”, disse o petista, sobre a possibilidade de afastamento da presidente Dilma Rousseff. “Não é nada pessoal, temos respeito pelo senador Anastasia, mas ele não é o único senador capaz.”
“Estão colocando sob suspeição o nome de Anastasia somente por ele ser do PSDB, sendo que o beneficiário direto do impeachment é o PMDB. Ou seja, é implicância pura”, acusou o senador Zezé Perrella (PTB-MG). Já o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) defendeu suposta imparcialidade do relator e sua capacidade de mudar de posição. “Não vejo o menor problema em ter Anastasia como relator. Ele pode vir com uma posição e, ao ouvir situação, oposição e defesa, se convencer de outra”, argumentou.
Diferentemente de outras reuniões do Senado, a primeira audiência do impeachment começou com ânimos acirrados. Nervosos, os senadores tiveram dificuldade de respeitar a fala uns dos outros. A discussão quanto à indicação de Anastasia se prolongou e muitos senadores pediram a palavra. Não havia, entretanto, qualquer interesse de reverter a situação por parte dos demais senadores.
Tema do debate, o senador Anastasia manteve a discrição e foi um dos poucos senadores a se manter em silêncio.