O Comitê de Ética da Fifa decidiu prorrogar em 45 dias a suspensão provisória aplicada a Jérôme Valcke, ex-secretário-geral da entidade máxima do futebol mundial. Suspenso desde o último dia 7 de outubro, ele tinha sua punição atual se encerrando na última terça, mas um breve comunicado divulgado nesta quarta confirmou que o ex-dirigente do organismo teve a pena ampliada e que a mesma passa a ter validade imediata.
O órgão da Fifa tomou a decisão ao atender um pedido da câmara de investigação da entidade, que anteriormente havia destituído Valcke do seu cargo pela suposta participação do dirigente em um esquema de venda de ingressos para Copa do Mundo de 2014. Em seguida, no dia 7 de outubro, ele foi suspenso por 90 dias, em punição que expirou na última terça-feira.
A nova punição a Valcke foi anunciada também um dia depois de o Comitê de Ética da Fifa recomendar a suspensão por nove anos do ex-secretário-geral da entidade. O francês é acusado de violar até sete artigos do código de ética da entidade e poderia ser impedido até mesmo de entrar em um estádio até o ano de 2025. Ele é denunciado por “oferecer e receber presentes e outros benefícios”. Além da suspensão, ele pagaria uma multa de US$ 100 mil.
Líder da organização da Copa de 2014, realizada no Brasil, Valcke atuou nos bastidores para lucrar milhões de dólares com a venda de ingressos para a Copa de 2014. E agora a decisão sobre o seu futuro como dirigente está nas mãos dos juiz Hans-Joachim Eckert, do Comitê de Ética da Fifa, que avaliará as denúncias de violação de regras de conduta, lealdade, confidencialidade, conflito de interesses, obrigação de colaborar e oferecer aceitar presentes e outros benefícios.
Valcke, que chegou a pensar em uma candidatura para a presidência da Fifa, foi afastado do seu cargo depois que o jornal Estado de S.Paulo e outros nove jornais internacionais revelarem que o francês fechou acordos para ficar com parte dos lucros da revenda de ingressos para a Copa de 2014, num esquema com ágio de mais de 200% nos valores das entradas e que teria envolvido mais de 2 milhões de euros (R$ 8,6 milhões) apenas para o bolso do dirigente.
Falastrão e milionário, Valcke ficou conhecido por ter sugerido que o Brasil levasse um “chute no traseiro” pelos atrasos na obras da Copa do Mundo. Na Fifa, ele levou a entidade a ser condenada por uma multinacional, o que custou a ela US$ 90 milhões em 2006. Naquele momento, a Fifa também anunciou seu afastamento. Mas ele voltaria em 2007 como número 2 da entidade.
Agora, as alegações apontam para a organização de um verdadeiro mercado negro de ingressos operando dentro da própria Fifa. A denúncia foi apresentada por Benny Alon, empresário israelense e americano que desde 1990 trabalha com a venda de entradas para os Mundiais. Sua empresa, a JB Marketing, ainda apontou para o “desaparecimento” de 8,3 mil entradas para a competição e que teriam de ser vendidas por eles no torneio.
O jornal O Estado de S. Paulo foi um dos dez meios de comunicação do mundo e o único no Brasil a receber com exclusividade e-mails confidenciais de Valcke, que se declara inocente, revelando um esquema milionário para a revenda de entradas para o Mundial de 2014 e que agora chega ao Comitê de Ética da Fifa.