O comitê de investimento do bilionário FI-FGTS escolheu nesta segunda-feira, 30, um novo presidente: o diretor industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Eduardo Abijaodi. Representante da bancada dos empregadores, ele contava com o apoio dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). A vice-presidência ficou para a bancada dos trabalhadores – Paulo César Rossi, da União Geral dos Trabalhadores (UGT).
O presidente do comitê é responsável por convocar as reuniões e decidir a pauta de votações. Hoje, foi a primeira reunião da qual Abijaodi participou e já foi escolhido para suceder o secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Dyogo de Oliveira, que passou boa parte do ano passado como presidente. Orientado pelo governo em 2014, Dyogo – que era secretário do Ministério da Fazenda – travou a pauta de votação dos projetos de infraestrutura nos quais o fundo tem interesse em fazer novos aportes.
O jornal “O Estado de S. Paulo” informou, no domingo, que os projetos prontos que estão na fila para a deliberação dos membros do comitê somam R$ 4,3 bilhões. Esse total está emperrado porque precisa da análise dos membros do comitê, pois a área técnica da Caixa, que administra o FI-FGTS, já preparou os pareceres. São necessárias duas aprovações do comitê para a liberação dos financiamentos.
Do valor que está na fila, R$ 1,1 bilhão espera a aprovação final do comitê para os desembolsos (os integrantes já tinham autorizado os aportes em uma primeira votação) e R$ 3,2 bilhões aguardam o sinal verde para que a Caixa possa iniciar o processo de estruturação de ativos. Nessa etapa, as empresas precisam comprovar que conseguirão fazer frente ao financiamento.
O problema do FI-FGTS não é falta de recursos. Em 2014, o fundo tinha mais de R$ 10 bilhões em caixa, mas o comitê acrescentou apenas um projeto à sua carteira – um aporte de R$ 630 milhões à concessionária de rodovias CCR, que tem como acionistas Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Soares Penido, para recuperação da Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro.
Depois de fazer uma auditoria no FI-FGTS, a pedido do Congresso Nacional, o Tribunal de Contas da União (TCU) fez, no ano passado, recomendações à Caixa e ao conselho curador do FGTS para aprimorar a transparência das decisões de aportes (muitas delas são feitas em empresas sem ações na bolsa) e melhorar o nível técnico dos integrantes do comitê.
Na reunião de hoje, os membros do comitê também decidiram repassar para o conselho curador do FGTS, que se reúne nesta terça-feira, 31, a decisão sobre a conduta do jornalista Luiz Fernando Emediato, representante da Força Sindical. O jornal revelou no ano passado que Emediato procurou ao menos quatro empresas, beneficiadas ou na fila de espera por recursos do FI-FGTS, para que patrocinassem a montagem de um filme baseado num livro que escreveu. No caso do Banco Original, do grupo J&F, ele conseguiu a captação de R$ 1 milhão.
O conselho curador já tinha decidido afastar o jornalista pelo possível conflito de interesse até a apuração do caso, depois de o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendar a investigação da conduta do membro do comitê. Quando recebeu dinheiro do Banco Original para o filme, Emediato fazia parte do comitê como representante do Ministério do Trabalho, então sob o comando do Brizola Neto (2013). O fundo financiou R$ 1,8 bilhão à Eldorado Brasil Celulose, controlada pelo grupo J&F, que mantém empresas em diversos segmentos com destaque para a JBS, maior produtora de carne bovina do mundo. Em sua defesa, Emediato disse ao jornal e aos membros do comitê que não participaria de reuniões deliberativas envolvendo eventuais patrocinadoras do filme.