Esqueça os números, as estatísticas e as taxas de mortalidade associadas ao tabagismo. Por um instante, não pense nas doenças, nos malefícios e nos danos ao organismo provocados pelo cigarro. Pense apenas nos benefícios de parar de fumar. Voltar a respirar fundo, sem tossir constantemente. Ter fôlego. Não sentir o cheiro de fumaça no cabelo ou na roupa. Voltar a ser um exemplo para seus filhos, familiares e amigos. E, principalmente, ser vitorioso.
A luta é contra a nicotina, uma droga que provoca dependência em poucas tragadas. Ela faz o fumante se sentir bem, principalmente em momentos de estresse. O cigarro é o companheiro da cerveja, do café, do motorista no carro durante o engarrafamento. Após anos de fumo, acender o cigarro pode se tornar uma tarefa tão instantânea quanto piscar, ou respirar. O tabagista acende o cigarro sem pensar.
É por isso que parar de fumar é tão difícil. A maior parte dos que tenta volta três meses depois. “Cerca de 5% a 16% dos fumantes conseguem parar sem ajuda”, explica a cardiologista Jaqueline Issa, diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Incor. Uma porcentagem significativamente maior – 25% a 33% – consegue parar quando recorre ao uso medicamentos, como gomas de mascar a base de nicotina. Quando há uma associação terapia medicamentosa com tratamento médico, as chances de sucesso se multiplicam.
Querer parar é o primeiro passo. Vários estudos, inclusive levantamentos nacionais, indicam que a maioria dos fumantes quer largar o vício. Como? É preciso se preparar. O fumante precisa marcar uma data. Se possível, escolher uma data representativa para dar maior importância ao ato, como o aniversário de uma pessoa querida, ou o Dia do Não Fumar, celebrado dia 16 de novembro. E quando este dia chegar, dá-se a última tragada. Mas, antes, é preciso fazer os preparativos para o grande dia.
O fumante deve fazer uma agenda para anotar seus hábitos tabagistas. Nesse registro, anota-se todos os cigarros fumados durante o dia, quando, com quem, em que circunstâncias, como se sentia, etc. Todas essas informações descreverão os “gatilhos” que, para aquele fumante, desencadeiam a vontade de acender o cigarro. No período “pós-dia D”, será importante evitar esses gatilhos para fugir da fissura pelo fumo.
Conhecer os hábitos é um importante passo para saber lidar com as crises que o ex-fumante enfrentará no período pós-abandono. É comum sentir depressão, insônia, ansiedade, irritabilidade, nervosismo e até mesmo fome. “A esse quadro dá-se o nome de síndrome de abstinência”, explica a cardiologista. “É importante estar preparado para essa reação. Isso ajudará a enfrentar o período de desconforto, durante o qual o corpo se acostuma à falta de nicotina.”
Para ter a maior ajuda possível, o tabagista pode anunciar a todos seus amigos, familiares e colegas que irá parar de fumar. Quanto mais apoio, melhor. Com a ajuda deles, o fumante deve tirar todos os cigarros e acessórios do seu redor: isqueiros, cinzeiros, fósforos e até o sache para amenizar o cheiro de fumaça.
Quando chegar o dia de parar de fumar, o tabagista deve se manter ocupado. Se sentir falta de segurar o cigarro na mão, tente um lápis ou outro objeto. “Beba muita água, faça exercícios”, explica a médica. “A vontade de fumar dura apenas alguns minutos. Se durante esse período o fumante ficar sem acender o cigarro, o desejo passa”, afirma Issa. E se a vontade for irresistível, a goma de mascar de nicotina ajuda a superar o desejo de fumar mais tranquilamente.
Milhares de pessoas tentam parar de fumar todos os dias e a grande maioria não consegue. Então se o fumante que tentou não conseguiu, é importante lembrar que toda a tentativa é válida. “Ele poderá usar a experiência da primeira tentativa na próxima”, aconselha a médica.