No auge das acusações que versavam sobre a gestão do ex-presidente Lula, importantes lideranças ligadas ao PT, um partido que se consolidou justamente graças à abertura democrática ocorrida no país, a partir dos anos 80, quando a imprensa começou a se libertar das amarras da ditadura militar, passaram a atacar sistematicamente os meios de comunicação de massa. Chegou a um ponto que o próprio ex-presidente defendeu em público mecanismos de controle da mídia, algo que seria sim uma afronta à democracia.
O assunto poderia até ser esquecido, ainda mais depois que a presidente Dilma Roussef (PT), em seu primeiro discurso após ser eleita, declarar para quem quisesse ouvir que defendia a liberdade de imprensa, bem diferente do silêncio ditado pelos tempos da ditadura. Até aqui, a chefe da Nação até que vem honrando seu discurso. Apesar de torcer o nariz para cada publicação que denuncia esquemas dentro de seu governo, ela não se faz de rogada. Tanto que quatro ministros já deixaram os cargos após reportagens da grande mídia.
No entanto, todos aqueles que foram conduzidos a sair do governo, por bem ou por mal, sairam – cada um com um diferente argumento – atirando na mídia. Para eles, em um discurso que toma corpo junto à base aliada do governo federal, a imprensa estaria exagerando nas denúncias publicadas em forma de reportagem. O último a sair, pelo menos até o fechamento deste texto, Wagner Rossi da Agricultura, insinuou que foi vítima de um grande complô.
Talvez, ele até tenha razão. Não fosse a mídia, ninguém saberia que Rossi utilizou um avião de uma empresa que tem grandes interesses na pasta da Agricultura, como se isso fosse normal. Também a população não saberia de que havia um balcão de negócios, comandado por uma pessoa muito próxima a ele, no próprio andar de seu gabinete no Ministério. Se Rossi acredita que isso é um complô, que seja.
O que não pode é querer fazer parecer que a mídia é irresponsável. Que publica notícias apenas por publicar. Tanto não é assim que Antonio Palocci, Alfredo Nascimento, Nelson Jobim e Wagner Rossi acabaram deixando seus cargos. Por mais que possam ser julgados inocentes daqui algum tempo, neste momento não apresentaram argumentos capazes de contrariar o que a mídia com muito mais propriedade. Fosse diferente, as denúncias cairiam no vazio.