A expressão “companheiro de viagem” foi criada pelo maior líder leigo do Catolicismo, do Brasil, nos anos 60, para designar os protestantes, espíritas, umbandistas, judeus e ateus que, como ele, enfrentavam a Ditadura Militar. Alceu – que usava o pseudônimo Tristão de Athayde – era, sobretudo, um respeitado pensador cristão, que também se destacou como crítico literário.
Como ele, enquanto intelectual católico, Chico Buarque, conquistou um lugar claramente definido dentro da Cultura Brasileira. A de músico, letrista-poeta, romancista e teatrólogo comprometido, desde o início de sua carreira, com a luta por Justiça Social Para este lugar, Chico atrai colegas. Com eles, compõe, monta peças de teatro, viaja para apresentações fora do Brasil. Mas, a expansão da presença de Chico não se esgota nas áreas das Artes. Porque atrai também para o espaço e a dimensão de sua carreira artística uma multidão de brasileiros que, sem seres artistas, sonham, como ele, com o fim das chocantes desigualdades sociais do País. São estes os “companheiros de viagem” de Chico.
No passado, um deles foi, enquanto esteve vivo, o arcebispo de Olinda, dom Hélder Câmara, Patrono Brasileiro dos Direitos Humanos, segundo a Lei 13.581, de 2017 – uma medida legal aprovada em reconhecimento à coragem heroica com a qual dom Hélder denunciou as tortura e as mortes de presos políticos no Exterior, durante a Ditadura Militar. Isto lhe valeu o tratamento de inimigo pelo regime arbitrário, o que incluía pesado veto à divulgação até de seu nome na imprensa. E como os agentes da polícia política não podiam atingi-lo fisicamente, devido a seu alto cargo hierárquico na Igreja Católica, eles torturaram até a morte, um jovem padre sociólogo – Antônio Henrique Pereira Neto – que trabalhava com dom Hélder.
Em duas ocasiões, pelo menos, o artista e o arcebispo se cruzaram. A primeira vez, quando Chico se apresentava num estádio de Recife. Ele viu dom Hélder sentado num dos lugares mais baratos. Assim que a apresentação terminou, Chico procurou por ele, mas não conseguiu encontrá-lo.
No entanto, ele já havia se comunicado com dom Hélder, a distância, ao agradecer a presença dele, diante do microfone. O que provocou – contaria depois Chico – aplausos vindos de todos cantos do estádio, fortes, densos, demorados, como ele nunca mais ouviu.
Dom Hélder morreu em 1999. Poucos dias antes, Chico estava, de novo, numa excursão artística, em Recife. E foi visitar o arcebispo, já debilitado a ponto de não poder levantar de sua cadeira.
Outros “companheiros de viagem”, depois, surgiram na trajetória artístico-existencial dele. Como, nestas eleições de prefeitos, Guilherme Boulos e Edmilson Rodrigues, do PSOL, Manuela D´Ávila, do PC do B, e, Marília Arraes, do PT.
(Ilustração: Chico se encontra com dom Hélder, em 1999)