Boa parte das companhias abertas seguiu no segundo trimestre deste ano com a estratégia de redução de custos para manter margens. O que se viu também foi que muitas dessas empresas conseguiram reduzir endividamento – uma das exceções foi a Petrobras -, reagindo com cautela ao ambiente macroeconômico desfavorável e às incertezas por conta das eleições. Nesse ambiente, optaram por frear investimentos e preservar fluxo de caixa, segundo analistas consultados pelo Broadcast. Os grandes bancos, por sua vez, conseguiram aumentar o lucro mesmo diante do ritmo menor nas concessões de crédito.
“Ao buscarem reduzir custos e a alavancagem, além de moderar os investimentos, as empresas mostram disciplina para preservar suas margens e manter seu fluxo de caixa”, comenta Nataniel Cezimbra, analista do BB Investimentos.
No caso da mineradora Vale, a dívida líquida no segundo trimestre ficou em US$ 23,19 bilhões, queda de 1,8% em relação ao visto um ano antes. Já os investimentos, excluindo pesquisa e desenvolvimento e aquisições, somaram US$ 2,469 bilhões no período, queda de 28,3% em relação ao mesmo intervalo do ano passado.
O presidente da companhia, Murilo Ferreira, ressaltou que o capex abaixo das estimativas ajudou na manutenção de um fluxo de caixa mais positivo. Além disso, analistas consideraram que a mineradora reportou resultados operacionais satisfatórios, apesar da queda do preço do minério de ferro e da desaceleração econômica da China. No período, a Vale registrou o melhor segundo trimestre de sua história na produção de minério de ferro, com um total de 79,4 milhões de toneladas, 12,6% superior ao do mesmo período de 2013.
A Petrobras também reduziu investimentos – no segundo trimestre, somaram R$ 20,915 bilhões, retração de 14,1% em relação ao mesmo intervalo de 2013. Entretanto, a alavancagem líquida, medida pela relação entre endividamento líquido e patrimônio líquido, chegou a 40% no final de junho, o mais alto já registrado pela estatal.
Apesar de ter aumentado o volume de produção de petróleo e gás no território nacional e ter anotado receita líquida trimestral recorde, de R$ 82,298 bilhões, a estatal continua sendo penalizada pela defasagem entre os preços dos combustíveis vendidos no Brasil e o valor pago no exterior.
No setor de papel e celulose, a alavancagem da Fibria caiu para 2,3 vezes no final do segundo trimestre de 2014. O indicador é 0,1 ponto porcentual inferior ao de 2,4 vezes do primeiro trimestre de 2014. Em dólares, a alavancagem se manteve em 2,4 vezes como no trimestre passado. A dívida líquida fechou o trimestre em R$ 6,681 bilhões, abaixo dos R$ 6,970 bilhões reportados ao final do primeiro trimestre do ano.
Em relatório, o analista Victor Penna, do BB Investimentos, afirma que a Fibria conseguiu aumentar suas vendas, mesmo com o alto nível dos estoques nos produtores mundiais, preço reduzido e câmbio depreciado. O profissional destaca a nova contração do nível de alavancagem. “A Fibria mostrou que está aproveitando-se de oportunidades mesmo diante de um mercado de celulose mais instável.”
“As empresas com dívida em dólar foram beneficiadas pela queda da moeda norte-americana ante o real no segundo trimestre”, ressalta Roberto Indech, analista da Rico. No período, na comparação com o primeiro trimestre, o dólar ptax recuou 2,67% ante o real.
O câmbio favoreceu a Gol, por exemplo. No segundo trimestre, a companhia aérea amortizou R$ 52 milhões de dívidas e captou R$ 168 milhões. O total de empréstimos e financiamentos totalizou R$ 5,407 bilhões (incluindo leasing financeiro), queda de 3,4% na comparação anual e de 1% na comparação trimestral.
Mesmo no setor siderúrgico, que reportou resultados fracos diante da queda da demanda por aço, houve redução do nível de endividamento. A Gerdau viu sua alavancagem cair de 3,1 vezes, visto no segundo trimestre do ano passado, para 2,4 vezes no intervalo de abril a junho deste ano. No primeiro trimestre, esse índice estava em 2,5 vezes.
Os investimentos em ativo imobilizado da siderúrgica gaúcha atingiram R$ 478,7 milhões, queda de 24,6% em relação ao segundo trimestre de 2013. Além disso, a companhia reduziu seu programa de investimentos para este ano de R$ 2,9 bilhões para R$ 2,4 bilhões. “Daremos continuidade ao trabalho de aumento de eficiência operacional nos negócios da empresa, de otimização do capital de giro frente aos níveis de demanda e de revisão dos investimentos em ativo imobilizado”, afirmou o diretor-presidente da Gerdau, André Gerdau Johannpeter, em nota divulgada no dia do balanço.
Indech, da Rico, destaca que, como a Gerdau, outras empresas reduziram suas expectativas de investimento para 2014. “As empresas estão mais cautelosas, também por se tratar de um ano eleitoral, que traz incertezas.”
Bancos
O grande destaque positivo do segundo trimestre foram os balanços dos grandes bancos, segundo analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. “O setor bancário vem reportando resultados bastante sólidos nos últimos três trimestres, principalmente o Itaú”, comenta Fábio Galdino, analista da Guide Investimentos. De acordo com o profissional, números de inadimplência melhores, com políticas austeras na concessão de crédito, e a manutenção ou aumento de margens são alguns dos fatores que mostram a resiliência do setor bancário diante do cenário macroeconômico desafiador.
Juntos, os três maiores bancos privados do País – Itaú Unibanco, Bradesco e Santander – tiveram lucro contábil 30,8% maior de abril a junho ante um ano, de R$ 9,205 bilhões. Já o público Banco do Brasil registrou lucro líquido ajustado, livre dos efeitos de itens extraordinários, de R$ 3,002 bilhões no período, cifra 14% maior que a vista em um ano, de R$ 2,634 bilhões.