Estadão

Comparado a Nadal, Alcaraz vira nova aposta da Espanha e mira Roland Garros

Ele é espanhol, gosta de saibro, mas não é o "novo Rafael Nadal". Carlos Alcaraz se tornou a grande sensação da temporada nos últimos meses graças aos títulos e à postura concentrada dentro de quadra. A poucos dias do início de Roland Garros, o tenista de apenas 19 anos traz, sim, características que lembram Nadal, mas, para alguns, tem potencial para se tornar ainda mais completo.

Alcaraz começou a despontar há dois anos, quando tinha os mesmos 17 anos com os quais Nadal irrompeu no circuito. As comparações entre os dois espanhóis foram inevitáveis. Ambos são torcedores do Real Madrid, são apegados as suas famílias e compartilham algo raro na nova geração: uma força mental acima da média.

Ele deu um exemplo disso há menos de duas semanas. Superou o próprio Nadal e o sérvio Novak Djokovic, número 1 do mundo, para se sagrar campeão do Masters de Madri, diante da torcida. Seu desempenho foi tão sólido que o alemão Alexander Zverev, derrubado pelo espanhol na final, não economizou palavras: "Ele é o melhor jogador do mundo neste momento".

Alcaraz se tornou o mais jovem campeão de Madri e o primeiro a vencer tanto Nadal quanto Djokovic num mesmo torneio sobre o saibro. Ele ainda virou o segundo mais novo a vencer dois títulos de Masters 1000, já que havia levantado o troféu em Miami, semanas antes – o primeiro é justamente Nadal, quando tinha 18 anos.

Os dois espanhóis já treinaram juntos, o que ajudou a aumentar o burburinho sobre o "sucessor" de Nadal. Eles compartilham os mesmos 1,85 metro de altura e a força física – Alcaraz apresentou forte evolução neste quesito nos últimos dois anos. Mas as comparações vão parando por aí. O jovem espanhol é destro, enquanto Nadal é canhoto. E traz características que lembram também Roger Federer, principalmente o maior poder de ataque e a habilidade de improvisar diante de situações inesperadas em quadra.

Alcaraz se destaca no saibro, mas não trata a terra batida como sua preferida. Sua boa performance em todas as superfícies são efeitos diretos do trabalho com Juan Carlos Ferrero. O espanhol, ex-número 1 do mundo e ex-rival de Gustavo Kuerten, treina o pupilo há quatro anos e estimula a versatilidade do jovem tenista.

O trabalho começou a dar frutos mais visíveis neste ano. Dos seus cinco títulos de nível ATP da carreira, quatro foram conquistados em 2021, sendo dois de Masters 1000, que só estão abaixo dos Grand Slam. Também venceu o Rio Open, em fevereiro. Ninguém levantou mais troféus no circuito do que ele neste ano até agora. E o sucesso se reflete no ranking: já figura no sexto lugar. Há um ano, era apenas o 114º. Dois anos atrás, aparecia na modesta 318ª colocação.

HISTÓRIA
Alcaraz alterna sua vida entre os torneios e viagens nos dias de semana, os treinos na academia de Ferrero e a companhia da família nos momentos de descanso na casa onde ainda é considerado um dos seus moradores – não há planos para morar sozinho. E o tênis o ajuda a se conectar com os familiares.

Seu pai, Carlos Alcaraz González, também foi tenista. Chegou a ser o 761º nas duplas, em 1991. O rebento mais famoso é o segundo mais velho entre quatro filhos, que moram juntos na pequena Múrcia, cidade de 24 mil habitantes localizada no sul da Espanha.

É na cidade da infância, quase um povoado, onde ele reabastece as energias e sonha alto. "No momento estou tentando assimilar tudo que está acontecendo", diz Alcaraz, após ser alvo de diversos elogios, incluindo Nadal.

"O que Carlos vem fazendo não me surpreende em nada", disse o compatriota. "Fico muito feliz por ele, todo mundo sabe o nível de tênis que ele pode alcançar. Estou satisfeito por saber que o meu país tenha encontrado outro jogador incrível no qual pode confiar por muitos anos", completou o recordista de títulos de Grand Slam, com 21 troféus.

Alcaraz admite que pensa grande, dando esperanças para quem sonha em ver novas figuras dominando o circuito masculino. "Neste ano, as pessoas estão pensando que serei um dos favoritos a vencer Roland Garros. Não trato isso como uma causa de tensão, mas como uma motivação. Estou ansioso por Paris, por lutar por um Grand Slam", avisou.

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