O cerco está se fechando para a companhia aérea Gol, que está a menos de 15 dias de honrar um compromisso de US$ 300 milhões com a Delta Airlines. Com o caixa cada vez mais apertado, sem o dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com os bancos privados fechando a torneira do crédito, as agências de risco Fitch e S&P já passaram o recado: a empresa precisará reestruturar seu passivo.
A classificação de risco da Gol foi para o patamar CCC, que aponta maior risco de calote. Isso não implica, entretanto, que um pedido de recuperação judicial seja iminente.
Esse caminho não é o mais óbvio, de acordo com especialistas ouvidos pelo <b>Estadão/Broadcast</b>, já que a lei brasileira de falências e recuperação judicial não permite que negociações com os credores mais relevantes – como as empresas que arrendam aeronaves e os bancos – ocorram sob a proteção judicial. Mas esse pode ser um desfecho, a partir da observação da experiência da rival Latam, que buscou proteção na Justiça norte-americana, onde a legislação é mais abrangente e ágil.
Por enquanto, a Gol mantém conversas com bancos parceiros sobre mecanismos de liquidez, o que inclui reescalonamento de obrigações, de acordo com o presidente da companhia, Paulo Kakinoff. Na apresentação da companhia balanço para o segundo trimestre, Kakinoff sinalizou que a possibilidade de emissão de debêntures, com apoio do BNDES, está para ser avaliada pelo conselho de administração.
Do outro lado, o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, afirmou nesta semana que aguarda a requisição pelas companhias aéreas dos empréstimos. O valor deve ficar em torno de R$ 1,2 bilhão para cada uma das empresas, dentro do prometido pacote de apoio.
A Gol encerrou com uma liquidez de R$ 3,3 bilhões no segundo trimestre deste ano, queda de 9,8% na comparação anual. A aérea espera fechar o terceiro trimestre deste ano com uma liquidez de R$ 2,9 bilhões. O valor já considera a amortização com a Delta.
<b>Preservação de caixa</b>
A empresa se esforçou para reduzir ao máximo o consumo de caixa com um acordo com aeronautas e aeroviários para cortar salários, assim como negociação com as proprietárias das aeronaves que utiliza. O problema é que a Gol precisará ter recursos para a retomada em um momento que a empresa está com mais dificuldade de levantar dinheiro. O cenário leva alguns agentes do mercado a acreditar que o "dia D" da companhia está próximo.
"Como a Gol vinha numa boa posição de caixa, deve deixar uma opção mais arrojada, de recuperação judicial, para o último minuto, inclusive para ver o que acontece com a Latam", disse uma advogada do setor que preferiu não se identificar.
Para ela, a melhor alternativa no caso de uma recuperação judicial seria a corte norte-americana, mas a companhia aérea teria de combinar o jogo com os credores – em especial os bancos – para evitar processos judiciais que podem lhe causar dor de cabeça mais à frente.
A pandemia fez a aérea reduzir de 800 para 50 o número de decolagens por dia em abril, ápice da crise. A Gol espera operar 250 voos por dia em agosto, contra 200 em julho e 100 em junho. Para setembro, a estimativa é elevar o número de voos diários para 300.
Procurada, a Gol disse que tem a opção de amortizar, integralmente, o empréstimo com a Delta em setembro. "Ou, eventualmente, fazer um aditivo para prorrogação, para o qual precisaremos do apoio da Delta", explicou a companhia, sem dar mais detalhes.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>