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Concerto para Vaca e Boi mescla sete tipos de viola

Um encontro inédito entre duas famílias de instrumentos ocorre nesta sexta-feira, 26, às 20h, no YouTube. E, embora distantes séculos entre si, elas jamais se apresentaram juntas no mesmo palco. De um lado, a viola da gamba, um dos instrumentos dominantes no período barroco, nos séculos 17 e 18, contemporânea de Bach e Vivaldi. De outro, seis instrumentos da família das violas tradicionais brasileiras, como as que têm atraído a atenção do grande público em noitadas da telenovela Pantanal, pelos violeiros Almir Sater e seu filho Gabriel.

"É um encontro mágico", conta Roberto Corrêa ao <b>Estadão</b>. Violeiro, compositor, professor e pesquisador, ele é um pioneiro na junção de dois universos a princípio díspares, como o das violas caipiras brasileiras e a música letrada. Este é seu vigésimo CD, disponível a partir de hoje nas plataformas de streaming.

Ele dedilha seis diferentes violas brasileiras em dois movimentos cada uma, sempre ao lado da viola da gamba pilotada por Gustado Freccia, compondo o Concerto para Vaca e Boi. São elas: a viola repentista (usada pelos repentistas no Nordeste), a viola de buriti (feita de palmeira, encontrada no Cerrado), a viola caiçara (do sul do Estado de São Paulo e norte do Paraná), a viola machete baiana (da região do Recôncavo), a viola de cocho (escavada no tronco de madeira que é o cocho de sal para os animais, no Estado de Mato Grosso) e a viola caipira.

Sobre esta última, Corrêa lembra que "Almir Sater, por exemplo, toca esse tipo de viola, a viola caipira, nas cenas da novela Pantanal. Ela é encordoada com dez cordas, sendo cinco pares de cordas, e afinada de diversas formas. Assim é a viola que Almir Sater e seu filho tocam na novela, como também é a minha, digo, meu instrumento principal, para o qual fiz a maioria de minhas composições e arranjos".

O resultado é arrebatador e surpreendente. Arrebatador pela delicadeza e refinamento das mil e uma sonoridades e encontros de timbres diversos das violas brasileiras e da gamba europeia, tocada com arco e também dedilhada.

Afinal, as duas famílias têm origem medieval, em instrumentos de cordas dedilhadas. E surpreendente, porque o domínio das violas brasileiras exige um trabalho tão profundo e demorado quanto o que se leva para tocar bem uma viola da gamba. Como diz pantaneiramente Corrêa, "cada viola tem a sua linguagem idiomática, e preciso uma imersão profunda para encontrar o ouro de cada instrumento".

Esse projeto ambicioso contemplado pelo Rumos Itaú Cultural inclui não só um álbum (o vigésimo de sua carreira), mas também um livro digital contendo as partituras e os comentários do violeiro sobre cada uma das seis violas.
Concerto para Vaca e Boi preserva a atmosfera de oralidade típica das violas brasileiras e, ao mesmo tempo, observa uma escrita musical rigorosa. Não é exagero afirmar que é o clímax dos cerca de 40 anos de estrada/academia desse notável músico e pesquisador brasileiro.

"A sonoridade da viola da gamba baixo lembra o mugido do boi e da vaca e me traz lembranças de um passado saudoso." O passado de quem tem a lida com o gado na história de sua família, em Campina Verde, nas Minas Gerais.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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