Condenado a 2 anos e 8 meses de prisão por violar um acordo de liberdade condicional, Alexei Navalni voltou ao banco dos réus nesta sexta-feira, 5, em Moscou. O principal opositor do Kremlin enfrenta agora um processo por difamação – o qual classifica como "uma manobra política".
Navalni é acusado de "divulgar informações falsas e caluniosas" sobre um ex-combatente da 2ª Guerra que, em vídeo, defendeu o referendo que deu mais poderes a Vladimir Putin no ano passado. A época, Navalni chamou as pessoas que discursaram no vídeo de "vergonha para a nação" e de "traidores".
Navalni acompanhou a audiência de dentro de uma cela de vidro, reservada a indivíduos detidos. Se condenado, ele pode ter que pagar multa ou ser sentenciado a uma nova pena de prisão.
Na terça-feira, 2, o principal opositor de Putin foi considerado culpado de violar regras de um acordo condicional para suspender uma sentença de 2014 – que estabelecia que ele deveria se reportar às autoridades penitenciárias ao menos duas vezes por mês.
Segundo a acusação, Navalni deixou de cumprir essa condição, mas isso inclui o período em que ele ficou internado em um hospital em Berlim, em setembro, quando se recuperava de um quadro de envenenamento que o colocou em coma.
O opositor disse que enviou documentos ao serviço penal sobre seu paradeiro. "Pode explicar como eu poderia ter cumprido melhor minha obrigação? Primeiro, eu estava inconsciente, depois consciente. E aí tive de aprender a andar novamente. O que mais eu poderia fazer?"
Imediatamente após o anúncio de sua condenação, uma multidão tomou as ruas de Moscou e mais de mil pessoas foram detidas, segundo a ONG OVD-Info. A sentença também provocou protestos de outros governos estrangeiros.
Nesta quinta-feira, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou que as relações entre Rússia e União Europeia (UE) estão em seu nível "mais baixo" em razão do caso contra Navalni. "Está claro que há uma tensão severa em nossas relações e que o caso Navalni as colocou em seu nível mais baixo", disse ele no início de seu encontro com o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, em Moscou.
Sem se referir ao opositor, o chanceler russo expressou sua disposição de "discutir qualquer assunto", embora tenha responsabilizado a UE pelas tensões existentes. "Nosso principal problema é a falta de normalidade nas relações entre Rússia e UE (…) É uma situação nociva que não beneficia ninguém", disse Lavrov, que disse querer uma discussão "franca e detalhada" com Borrell.
Nos últimos dias, a Rússia descreveu como "ingerência" as críticas europeias à detenção e ao encarceramento de Navalni, assim como à repressão às recentes manifestações de apoio a ele. A UE também denunciou o envenenamento do opositor em agosto passado, na região russa da Sibéria, com um agente nervoso do tipo Novichok desenvolvido na época soviética.
Diante da recusa de investigação por parte de Moscou, que nega ter tentado matar o oponente e fala em um complô internacional, os europeus adotaram sanções contra várias autoridades russas de alto escalão. (Com agências internacionais).