Estadão

Condições econômicas justificam fim de compras de ativos, diz dirigente do Fed

A presidente da distrital do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em Kansas, Esther George, afirmou nesta quarta-feira que identifica sinais de que a economia dos Estados Unidos atingiu os requisitos de "progressos substanciais adicionais" estabelecidos pela autoridade monetária. "Eu apoio o fim das compras de ativos sob essas condições", disse, durante evento virtual.

Como evidência da força da economia norte-americana, a dirigente citou o fortalecimento da demanda, a recuperação do mercado de trabalho e o avanço das expectativas de inflação. Para ela, com a retomada em curso, é preciso fazer a transição para configurações políticas "mais neutras".

George, contudo, esclareceu que ainda há uma série de incertezas, sobretudo com desequilíbrios entre oferta e demanda, que elevam os preços. "A economia apertada de hoje certamente não pede uma política monetária apertada, mas sinaliza que o tempo chegou para reduzir os instrumentos", destacou.

Segundo a líder do Fed de Kansas, a discussão sobre a redução do relaxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês) "não está mecanicamente conectada" com os ajustes na taxa de juros. Na visão dela, o caminho para a normalização monetária será "longo e acidentado".

George acrescentou que pode demorar algum tempo até que haja uma recuperação plena do emprego nos EUA. "Este não é um argumento para manter as taxas de juros inalteradas, mas garantir acomodação se ajusta à medida que a economia se expande, evitando desequilíbrios e instabilidades que podem descarrilar tais ganhos", explicou.

<b>Variante Delta</b>

A presidente da distrital do Federal Reserve em Kansas reconheceu que as incertezas decorrentes da disseminação da variante Delta do coronavírus podem atrasar a recuperação da economia dos Estados Unidos. No evento virtual, a dirigente citou o risco de que a mutação "complique" o cronograma do Fed para normalização da política monetária. "Os efeitos poderiam ser tão pronunciados do lado da oferta quanto do lado da demanda, prolongando o aperto da economia e mantendo a pressão de alta sobre os preços", alertou.

Esther George projetou uma desaceleração do crescimento econômico nos próximos meses, embora acredite que o ritmo continuará "robusto". Segundo ela, a expectativa é de que a demanda comece a arrefecer, à medida que as ações de apoio do governo diminuam.

"Algumas estimativas mostram que a política fiscal, após somar quase 4 pontos porcentuais do crescimento no ano passado, subtrairá cerca de 2 pontos porcentuais do crescimento ao longo dos próximos anos", destacou.

<b>Inflação, oferta e demanda</b>

A presidente da distrital do Federal Reserve atribuiu o recente avanço da inflação nos Estados Unidos a uma série de desequilíbrios entre oferta e demanda. "Costumo ouvir anedotas que sugerem uma economia que se deparou com gargalos, incluindo relatos de dificuldades na busca trabalhadores e de ter que pagar preços muito mais altos pelos materiais e transporte", afirmou.

A dirigente acrescentou que "há boas razões para crer" que a maior parte desses fatores é temporária. Segundo ela, o esgotamento de estoques de empresas confirma os desequilíbrios das dinâmicas de oferta. George comentou ainda que uma parcela dos aumentos de preços reflete uma reversão a padrões pré-coronavírus.

A líder do Fed de Kansas comentou que o setor de serviços nos EUA segue "deprimido" em relação aos níveis pré-pandemia, o que sugere que há espaço para crescimento. No entendimento dela, deve continuar havendo uma rotação dos padrões de consumo, de bens para serviços.

Ela evitou fazer previsões sobre o impacto do debate sobre o teto fiscal no Congresso na economia, mas disse que, baseado nas experiências anteriores, pode haver algum efeito.

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