Quando questionados sobre o que pensam sobre as mudanças climáticas e a importância de discutir uma agenda ambiental positiva ao País, a resposta geral de parlamentares do Senado ou da Câmara é de que se trata de um tema relevante, que deve ter o tratamento de outros assuntos prioritários, como a economia. Mas as afirmações caem por terra quando se trata da emergência climática e a necessidade de que medidas práticas sejam tomadas no curto prazo.
O descolamento entre o discurso e a prática dos congressistas brasileiros sobre a agenda ambiental foi medido pelo estudo "A agenda do clima no Congresso Nacional: uma pesquisa sobre a percepção dos parlamentares brasileiros", iniciativa da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps). As análises feitas pela Fundação Getulio Vargas tiveram apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS).
Foram entrevistados 114 deputados e 17 senadores, além de 28 assessores parlamentares, que representaram a opinião dos congressistas. A pesquisa contatou 487 deputados federais e 69 senadores, mas conseguiu concluir 159 entrevistas, realizadas entre 25 de fevereiro e 26 de maio deste ano. Não houve direcionamento por vinculação partidária ou ideológica.
Os resultados mostram que a maioria do Legislativo reconhece a relevância do assunto. Entre os entrevistados, 94% se dizem interessados pelo tema. Outros 98% acreditam que não deve haver um dilema entre o crescimento econômico e a conservação ambiental.
Entre os congressistas da base do governo, 42% afirmaram ter muito interesse sobre a pauta ambiental, média que sobe para 68% dos parlamentares da oposição. Em outra frente, 86% dos congressistas da oposição entendem que o problema das mudanças climáticas é muito sério, enquanto esse índice cai para 52% entre aqueles que apoiam o governo.
Mônica Sodré, diretora executiva da RAPS, afirmou que, apesar da atenção dada ao assunto pela maioria dos parlamentares, isso não se traduz efetivamente em percepção de que o Brasil e o mundo vivem uma emergência climática, o que poderia levar a ações efetivas no Legislativo sobre o tema.
Ao expor os parlamentares a um conjunto de perguntas ranqueadas de zero a um – sendo zero nenhuma emergência e um total emergência – o índice geral ficou em 0,59 ponto. Se for considerado especificamente a opinião dos governistas, esse índice cai para 0,49 ponto.
"Os dados mostram que, embora já vivamos em um estado de emergência climática, temos um Congresso em estado de letargia climática", disse Sodré. "Conhecemos a gravidade do que estamos vivendo, mas o parlamento não está lidando com a gravidade do problema como deveria."
O Brasil é hoje o quinto maior emissor mundial de gases de efeito estufa. O desmatamento, sozinho, é responsável por 94% dessas emissões e a maior parte, cerca de 87%, ocorre na Amazônia. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>