Yukiko Urata, de 102 anos, nasceu na região japonesa de Hokkaido, a segunda maior ilha do país asiático, no dia 18 de julho de 1916. Moradora de Guarulhos desde 1955, ou seja, há quase 65 anos, a idosa se considera natural da cidade, segundo sua filha, a securitária Dina Urata Sakagute, 59. As duas moram no Jardim Presidente Dutra.
Esta poderia ser apenas a descrição de mais uma mulher centenária japonesa, que se mudou para o Brasil na década de 1930, mais precisamente em 1932, aos 16 anos de idade – antes de se mudar para Guarulhos, ela morou em São Paulo.
Mas Yukiko é diferente e chamou a atenção de todos no último sábado, 30/03, quando foi para Boituva, interior de São Paulo, saltar de paraquedas pela primeira vez em sua vida.
"A ideia surgiu da minha amiga Ana Cláudia da Silva, que trabalha comigo. Um dia ela me perguntou onde fica Boituva e disse que era uma cidade no interior, conhecida pelo Centro Nacional de Paraquedismo. Então, a Ana revelou que era isto mesmo que estava procurando e que tinha o sonho de pular. E eu também tinha este sonho", contou Dina ao GuarulhosWeb.
As duas amigas começaram a planejar a realização do sonho. Dina chamou sua filha, Karina Tizuka Urata Sakague, que já havia saltado de paraquedas, e as três marcaram a viagem para Boituva.
"Eu sempre levo minha mãe para todos os lugares que eu vou. Vou a shows, concertos de ópera na Sala São Paulo e ela sempre está comigo. Chamei para ir ao Centro Nacional de Paraquedismo e perguntei brincando: 'A senhora vai só ver ou vai saltar?'. Ela respondeu: 'Eu vou saltar'. Achei que tivesse brincando, mas não estava", lembrou a securitária.
Dina admitiu que ao perceber que Yukiko realmente queria saltar de paraquedas, ficou preocupada e pensou barrá-la. Yukiko, então, mostrou tristeza com a atitude da filha.
"Minha mãe está com 102 anos, porém não tem nenhum problema de saúde. Não toma nenhum remédio. Só Complexo B. Não tem problema de diabetes, pressão, nem nada. Os médicos dizem que ela tem coração de mocinha. Mas, obviamente, ela está com uma idade avançada. Não tem a mesma saúde de uma pessoa jovem. E eu me preocupei também porque ela colocou uma prótese em novembro de 2017, após fraturar o fêmur", confessou.
Porém, segundo a própria Dina, ao chegarem em Boituva, elas foram questionadas pela equipe do Centro Nacional de Paraquedismo sobre o motivo de estarem lá. "Revelei que era um sonho nosso e comentei que minha mãe também queria saltar. Então me responderam que se ela não tivesse nenhum problema de coração ou algo parecido, poderia pular sem problemas, já que o impacto ao encostar no solo seria todo do instrutor. A prótese não iria interferir em nada", recordou.
"Meses antes de irmos até lá, quando a questionei brincando se queria pular e ela disse que sim, até pensei em levá-la ao médico para realizar exames, mas acabei não levando. Então, ela pulou sem autorização médica mesmo", divertiu-se a securitária.
Depois do salto, de acordo com Dina, a equipe do centro prestou todo o atendimento necessário à Yukiko. "Vieram com uma cadeira de rodas, caso ela passasse mal, e uma enfermeira mediu a pressão e os batimentos cardíacos dela. Foram muito profissionais e atenciosos", elogiou.
No final das contas, a viagem para Boituva foi um sucesso. "Ela ficou muito feliz. Disse que poderia morrer hoje, que morreria feliz. Nunca tinha a ouvido dizer isso antes. Três gerações, avó, mãe e neta, além de uma amiga, juntas em um avião para saltar de paraquedas", comentou Dina.
Quando questionada se sua mãe tem algum outro sonho que deseja realizar, a securitária respondeu. "Ela não me disse. Meus amigos brincam e falam para fazermos um passeio de balão. Não duvido que ela tope [risos]. Minha mãe está lúcida. Lê jornais, livros e só come coisas saudáveis. Come muita fruta. Como dizem, mente sã e corpo são. Este é o segredo", finalizou Dina, que perdeu o pai, quando ele tinha 81 anos, e um irmão, vítima de um câncer no intestino, aos 48 anos. Apesar da idade, Yukiko não possui bisnetos. Tem a neta Karina e um neto, filho do seu falecido primogênito.
