Desde 2012 à frente da unidade de coordenação de emergências sanitárias do governo da Espanha, o médico epidemiologista Fernando Simón tornou-se um rosto muito conhecido durante a pandemia. Em entrevista ao <b>Estadão</b>, ele diz que o relaxamento das medidas deve ocorrer com base em estudos sobre seus impactos. Ele atribui o êxito da vacinação dos espanhóis à mensagem clara de que apenas por meio da imunização o mundo poderá superar a crise.
<b>Hoje são quase 80% dos espanhóis vacinados com as duas doses, mais do que em países como os EUA. Como chegaram a esse nível?</b>
A alta cobertura era esperada. É uma questão de educação, do tipo de população que temos, de solidariedade. Desde o primeiro dia da pandemia, uma das mensagens lançadas para a população é a de que não sairíamos dessa até termos as vacinas.
<b>Os movimentos antivacina não atrapalharam?</b>
Eles não têm um impacto importante na Espanha. Aqui trabalhamos muito para explicar o que era a vacina.
<b>O senhor tem dito que a vacinação obrigatória não é necessária em algumas circunstâncias. Quando ela deve ser obrigatória?</b>
Na Espanha, nenhuma vacina é obrigatória e temos coberturas muito boas. É verdade que há países onde ainda há uma incidência muito alta do vírus, com muitas pessoas vulneráveis morrendo, e a população tem acesso à vacinação e não se vacina. Nessas situações, faz sentido os Ministérios da Saúde proporem a obrigação.
<b>Quando o mundo vai poder parar de usar máscara?</b>
A situação é muito diferente em cada país. Para que o mundo inteiro fale que não são necessárias as máscaras temos de ter mais gente vacinada. E temos de aprender que as máscaras são ferramenta de controle de doenças respiratórias.
<b>Quando o senhor estima que voltaremos à normalidade pré-pandemia?</b>
O que aconteceu foi muito triste, mas aprendemos algumas coisas. Podemos ter uma vida com algumas coisas diferentes do que fazíamos antes. Aprendemos que em muitas profissões, por exemplo, o teletrabalho é possível.
<b>Com o conhecimento que se tem hoje, era possível cuidar dos problemas econômicos e sanitários ao mesmo tempo?</b>
O que fizemos no ano passado era o que tínhamos de fazer. Se tivermos outra pandemia daqui a alguns anos, possivelmente, poderemos fazer o impacto ser menor na economia e na saúde das pessoas.
<b>A política de confinamento era a única saída?</b>
Naquele momento, sim. O problema é como implementar essas medidas. O confinamento foi possivelmente um pouquinho mais duro, mas era a única possibilidade de não ter injustiças na sua aplicação.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>