O aumento do consumo das famílias explica a revisão da alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 2013, de 2,7% para 3,0%, como anunciado nesta terça-feira, 17, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao divulgar os dados definitivos das contas nacionais de 2012 e 2013.
Segundo Cristiano Martins, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, uma das explicações para isso é que, para calcular as contas nacionais trimestrais, há pouca informação para o volume de consumo das famílias.
“O volume do comércio é um indicativo do quanto aumentou ou consumo das famílias, mas ele está crescendo menos do que o das famílias”, afirmou Martins, em entrevista coletiva que ocorre neste momento, no Rio. “Só que, nos últimos anos, tem crescido o consumo de serviços pelas famílias”, ressaltou o técnico do IBGE.
Nas contas nacionais anuais e definitivas, o IBGE incorpora dados mais detalhados sobre o setor de serviços.
Construção
Outro dado importante vindo do IBGE é que o crescimento da construção impulsionou a evolução da taxa de investimento no País nos últimos anos. Segundo o instituto, a taxa de investimento vem crescendo desde a passagem de 2009 para 2010, quando ficou em 20,5%. Em 2011, o resultado foi de 20,6%; em 2012, 20,7%; e, em 2013, 20,9%.
“O crescimento da taxa de investimento em boa parte desse período se explica pela construção aumentando”, justificou Martins.
A construção passou de uma fatia de 49,8% da Formação Bruta de Capital Fixo em 2010 para uma participação de 51,1% em 2013. O segmento residencial respondeu por 22,3% em 2013, enquanto a parte de outros edifícios e estruturas foi de 28,8%.
Já a contribuição de máquinas e equipamentos encolheu, de 38,9% em 2010 para 37,9% em 2013. Os produtos de propriedade intelectual avançaram de 9,4% para 9,7%, enquanto os outros ativos fixos recuaram de 1,9% para 1,4%.
Em relação à participação no PIB, a construção aumentou sua fatia de 10,2% em 2010 para 10,7% em 2013. Máquinas e equipamentos saíram de 8,0% para 7,9%; produtos de propriedade intelectual, de 1,9% para 2,0%; e outros ativos fixos, de 0,4% para 0,3%. “A construção ganha peso no PIB”, ressaltou Martins.
Necessidade de financiamento
A necessidade de financiamento do Brasil praticamente dobrou de 2010 a 2013, para R$ 191,401 bilhões, e o movimento foi puxado pela remessa de lucros e dividendos de empresas multinacionais no pós-crise de 2008, informou o IBGE).
Em 2010, a necessidade de financiamento era de R$ 98,294 bilhões. Segundo Carlos Sobral, gerente de Setores Institucionais da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, no período, as importações foram superiores às exportações e o saldo externo de bens e serviços ficou negativo, puxado pela remessa de lucros e dividendos.
De acordo com Sobral, antes de crise, de 2002 a 2007, o envio médio de lucros e dividendos foi de US$ 19 bilhões ao ano. Após a crise, de 2008 a 2013, o envio médio de lucros e dividendos foi de US$ 47 bilhões.
Importações e Exportações
Conforme os dados divulgados nesta terça-feira, o IBGE revisou a taxa de crescimento das importações em 2013, que passou de 7,6% para 7,2%. Já a taxa das exportações foi revista de 2,1% para 2,4% no ano.
“No caso de exportação e importação a gente tem nas contas anuais um detalhamento maior dos produtos comercializados”, explicou Cristiano Martins.
FBCF
A participação do setor privado, entre as empresas não financeiras, na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) passou de 81,9%, em 2010, para 84,5%, em 2013. Já a participação do setor público foi de 18,1%, em 2010, para 15,5% em 2013.
Foi a primeira vez que o IBGE divulgou a abertura do setor institucional empresas por origem do capital: privado e público, além da mensuração do setor público para o Valor adicionado bruto (VAB), Remunerações, Excedente operacional bruto (EOB) e FBCF.
Os setores institucionais com maior participação na FBCF são as empresas não financeiras e as famílias, com valores nominais, respectivamente, de R$ 535,8 bilhões e R$ 316,9 bilhões em 2012, e R$ 597,4 bilhões e R$ 359,3 bilhões em 2013, informou o IBGE.
Problemas
O IBGE teve dois “problemas desagradáveis” este ano ao elaborar o cálculos definitivos das contas nacionais de 2012 e 2013, por falta de dados a serem enviados pelo Banco Central (BC) e pela Receita, afirmou o diretor de Pesquisas do órgão, Roberto Olinto.
No caso do BC, faltaram dados sobre o balanço de pagamentos, fundamentais para que o IBGE faça os cálculos das contas nacionais interligadas. O problema é que o BC atualizou a metodologia de cálculo da balança de pagamentos, conforme manuais internacionais atualizados, mas apenas para 2014 e 2015, sem revisar a série histórica.
“Isso fez com que fôssemos obrigados a não cumprir o que tínhamos planejado”, afirmou Olinto, durante a apresentação das contas nacionais definitivas de 2012 e 2013.
Segundo o diretor, existe a possibilidade de o IBGE receber a série histórica revisada pelo BC até 2010, “num prazo relativamente curto”. “Aí, no primeiro trimestre, divulgaremos diretamente na internet a versão das contas econômicas integradas incorporando os dados da balança comercial”, informou Olinto.
Já a revisão dos dados do balanço de pagamentos de 2000 a 2009 “permanece uma incógnita”, segundo Olinto. “Quando o BC publicar, nós imediatamente atualizaremos as contas nacionais integradas”, disse o diretor do IBGE. “Estamos pedindo, por favor, que nos enviem os dados o mais rápido possível. Não é aceitável não ter uma série coerente”, completou Olinto.
O diretor também criticou a Receita, que fornece ao IBGE dados do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) para elaborar as contas do PIB. “Este ano, não recebemos os dados de 2013 da Receita. Isso exige da equipe um esforço muito maior de checagem, de avaliação e busca de outras fontes”, afirmou o diretor do IBGE, completando que a Receita entregaria os dados, em Brasília, “possivelmente hoje”.
“A Receita conseguiu atrasar a entrega até o momento em que a gente não podia incluir mais”, concluiu Olinto.