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Contadora de esquema do Carf admite pagamentos suspeitos de serem propinas

A contadora Gegliane Maria Bessa Pinto admitiu, em depoimento à CPI do Carf do Senado Federal, ter recebido dinheiro e feito pagamentos que investigadores acreditam ser propinas pagas no esquema de corrupção do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), investigado pela Operação Zelotes.

Fontes que tiveram acesso ao depoimento que Gegliane fez na terça-feira, 30, à CPI disseram que ela detalhou como funcionava sua participação no esquema, que tentava reduzir ou anular multas aplicadas pela Receita Federal.

De acordo com as declarações de Gegliane, os recursos eram sacados e entregues a ela por Hugo Rodrigues Borges, funcionário do escritório J.R. Silva Advogados, do ex-conselheiro do Carf José Ricardo da Silva, um dos investigados na operação.

Borges teria feito três saques nos valores de R$ 400 mil entre 2011 e 2012 de uma só conta e, depois de 2012, outros saques de menor valor, entre R$ 30 mil e R$ 50 mil, que foram entregues a Gegliani.

No depoimento, ela disse que, a partir de uma planilha feita a mando de José Ricardo e Alexandre Paes dos Santos, ambos investigados na Operação Zelotes, dividia o dinheiro em envelopes que guardava em um cofre na sede do escritório, no Lago Sul, área nobre de Brasília.

Depois, ainda no escritório, a contadora entregava o dinheiro às pessoas determinadas pelos dois investigados. Gegliane disse à CPI não ter condições de identificar as pessoas que receberam o dinheiro, que teria sido entregue ao longo de dois anos.

Gegliane, que mora na África do Sul, veio ao Brasil para o depoimento à CPI do Carf. Na terça-feira, porém, uma ordem judicial proibiu que ela deixasse o País, por considerá-la essencial à investigação.

Na investigação da Operação Zelotes, feita por uma força-tarefa formada por Polícia Federal, Ministério Público Federal e Receita Federal, Gegliane é apontada como funcionária de confiança de Santos, lobista de Brasília que teria envolvimento com o esquema e tinha o papel de pagar, “muitas vezes em dinheiro”, agentes públicos corrompidos.

E-mails interceptados na investigação mostram mensagens entre Gegliane e José Ricardo, nas quais o ex-conselheiro solicita que ela abra o cofre e retire R$ 100 mil em espécie, que deveriam estar armazenados em dois envelopes, cada qual com R$ 50 mil, para serem repassados a agentes que possuíam negócio com a organização criminosa.

Denúncias

As primeiras denúncias do Ministério Público Federal da Operação Zelotes deverão ser apresentadas em agosto, segundo fontes ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo. O MP ouvirá nesta quinta-feira o depoimento de Gegliane.

Entre os nomes que deverão integrar a primeira leva de denúncias está o do ex-conselheiro do tributal administrativo da Receita Federal, Valmir Sandri. As investigações mostram que seu patrimônio cresceu de forma “fabulosa” nos últimos anos e que ele possui recursos no Exterior em valores significativos. Sandri também é alvo das investigações e substituiu José Ricardo Silva no Carf.

Em nota, no dia 4 de abril, Sandri negou as acusações e rechaçou qualquer “ilação ou tentativa de vinculação” de seu nome à prática de atos ilícitos. O esquema no Carf passou a ser investigado a partir de denúncia anônima do conselheiro Paulo Roberto Cortez à Receita Federal e depois à PF.

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