Estadão

Contas em dólar se multiplicam e podem reduzir gastos em viagens em até 10%

Ter uma conta em dólar ainda pode parecer, na cabeça da maioria das pessoas, coisa só para investidores que têm muito dinheiro para gastar. Mas a realidade não é mais bem esta – e o cidadão comum já tem pelo menos quatro opções de baixo custo ou até gratuitas para operar seus recursos na moeda americana.

As vantagens são a conversão da taxa de câmbio segundo a tabela do dólar comercial em vez do turismo e a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF): na conta em dólar, a alíquota é de 1,1% nos pagamentos feitos com cartão de débito, contra 6,38% em pagamentos feitos no exterior com cartões de crédito emitidos no Brasil.

Uma das pioneiras na área, a Wise lançou sua conta global ainda em 2016. A proposta era simplificar a forma de transferir dinheiro para o exterior e fazer pagamentos em outros países. Hoje, a conta global da Wise é compatível com 55 moedas. "O Brasil foi o maior caso de lançamento no mundo", diz Pedro Barreiro, líder de expansão da Wise.

Para o executivo, o aumento da oferta de contas em dólar se dá pela retomada das viagens internacionais. "O brasileiro viaja muito e busca as opções mais vantajosas, seja para fazer compras em um país vizinho ou para fazer um chá de bebê em Nova York."

Mais tarde, entre 2019 e 2020, o banco múltiplo C6 Bank e a startup Nomad entraram em campo com soluções de contas globais. O C6 integrou o recurso a um conjunto que hoje soma 60 produtos financeiros em seu aplicativo para celular, incluindo uma conta em euro. "Para chamar a atenção das pessoas, precisávamos de produtos inovadores. Não poderíamos lançar só mais um produto para aprimorar com o tempo. A cópia de produtos bancários que dá certo é muito frequente", diz Luiz Marcelo Calicchio, sócio-fundador do C6 Bank.

Já a Nomad nasceu com uma estratégia focada nesse nicho de mercado. Apesar do nome, a empresa não é voltada apenas aos nômades digitais, mas sim para todos que quiserem ter uma conta global.

Com a retomada das viagens, que começou no ano passado, a empresa viu um salto no número de contas abertas de 100 mil a 500 mil. Considerando a média de gastos, Caio Fasanella, líder de investimentos da Nomad, estima que a economia em compras no exterior seja de 10%.

"Em média, o cliente da Nomad tem uma economia de 10% por compra em relação ao cartão de crédito internacional, que tem o IOF e a taxa de conversão de moeda. O gasto médio do brasileiro em uma viagem é de US$ 2 mil. Ou seja, o consumidor pode economizar US$ 200?, afirma. Diante da alta demanda, a empresa estima que irá faturar 10 vezes mais neste ano do que em 2021.

<b>Banco Inter aproveita a onda</b>

Um dos novos entrantes do nicho da conta em dólar é o Banco Inter. A instituição comprou a startup Usend no fim do ano passado e lançou a conta internacional em seu aplicativo próprio em julho deste ano.

Aloisio Matos, ex-sócio da Usend e hoje líder de serviços internacionais do Inter, conta que o objetivo de criar a conta em dólar para os clientes do banco oferecer facilidade. "Há uma grande burocracia para abrir conta nos Estados Unidos. É preciso ter número de telefone e endereço no país. A nossa conta é para o cliente brasileiro, tudo em um único aplicativo e sem valor mínimo de transferências", afirma Matos.

Para completar o "elenco" de contas com câmbio, o Revolut, banco britânico conhecido por suas contas globais, iniciará operações no País até o fim deste ano. A empresa já tem um time de 30 pessoas e procura escritório em São Paulo. Segundo Glauber Mota, CEO do Revolut no Brasil, a conta internacional será aberta em Cingapura e poderá ser utilizada em diversas moedas, incluindo real, dólar e euro.

<b>Quanto custa ter a conta internacional?</b>

Apesar da facilidade de ter uma conta em dólar, esse benefício não chega totalmente sem custos ao consumidor. Ainda que a abertura da maioria das contas seja gratuita, há cobranças em cada transferência de saldo (conversão de câmbio), em saques, em pagamentos feitos com cartão de débito e na conversão do dinheiro de volta ao real.

O C6 cobra uma taxa de abertura da conta internacional no valor de US$ 30, que pode ser isentada se o cliente pagar a anuidade do cartão de crédito Carbon ou se tiver mais de R$ 20 mil investidos no banco. Além disso, há cobrança de US$ 10 em caso de inatividade da conta durante 12 meses, o que pode prejudicar quem comprar dólares pensando no longo prazo e acabar se esquecendo de movimentar a conta.

A Nomad, startup que demitiu 20% da equipe neste ano, três meses depois de captar um aporte de US$ 32 milhões, também avalia a cobrança de novas taxas para aumentar a rentabilidade do negócio.

Apesar do custo extra em relação aos concorrentes, a estratégia de integração da conta global ao mesmo aplicativo é a aposta do C6 para crescer. Atrás de bancos tradicionais, a instituição é a 24.ª colocada no ranking de câmbio do Banco Central de janeiro a julho deste ano, com faturamento de US$ 13,1 bilhões. Apesar de alto, o valor é uma fração do faturamento de US$ 208 bilhões do Santander, líder do ranking no período, mostrando que ainda há muito terreno a ser conquistado.

<b>Como eu faço para abrir minha conta?</b>

O processo de abertura de contas em dólar foi simplificado pelas empresas e tudo é feito com o celular, desde que você tenha documentos de identificação válidos, como RG, CPF ou CNH. O saldo em dólar aparece no aplicativo, em uma área separada da interface da conta em reais. Ou seja: os valores não são misturados, cada saldo fica em um campo separado.

No aplicativo do Banco Inter, por exemplo, basta tocar no ícone das bandeiras do Brasil ou dos Estados Unidos para alternar entre as contas em reais ou em dólares. No C6 Bank, basta arrastar o saldo em reais para o lado no aplicativo para ver o saldo em dólar ou em euro. Uma vez aberta a conta internacional em qualquer instituição financeira, o consumidor brasileiro precisará incluir a conta em dólar na declaração do imposto de renda anualmente.

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