Pedro Almodóvar inspirou-se em três contos da escritora canadense Alice Munro para escrever o roteiro de Julieta. São os textos Ocasião, Daqui a Pouco e Silêncio, que figuram no livro Fugitiva, publicado aqui pela Biblioteca Azul, selo da editora Globo.
Vencedora do prêmio Nobel de Literatura de 2013, Alice sempre detestou ser chamada de “Chekhov canadense” – suas duas principais referências, na verdade, foram William Maxwell e William Trevor. O reconhecimento, aliás, demorou para acontecer, pois, quando começou, nos anos 1950, Alice era vista como uma dona de casa excêntrica, que escrevia contos nas horas vagas.
Logo se descobriu que não se tratava de uma autora qualquer – afinal, a vida de seus personagens muda de forma abrupta, reprisando a experiência da própria Alice, que só se assumiu como escritora profissional depois de se separar do primeiro marido, com quem dividia a direção de uma livraria. Mas são os fatos corriqueiros transformados em visões epifânicas que caracterizam os contos da canadense.
Dona de um estilo simples, mas arguto, Alice revela, em seus contos, um olhar especial para os pequenos detalhes, o que a torna universal. Não foi à toa, portanto, que Almodóvar se interessasse pela sua escrita. As mulheres de Alice Munro encontram-se em constante questionamento, seja a idade ou a insegurança.
As narrativas de Fugitiva se desenvolvem como nas histórias de ninar, em que uma calma aparentemente sólida é modificada por um elemento desequilibrador. Seu texto é marcado por um realismo cru, mas ternamente subjetivo e sugestivo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.