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Contra vício na internet, grupo faz detox digital

O despachante Marcelo Corrêa, de 42 anos, sempre gostou de se comunicar pela internet: foi usuário dos programas de mensagens instantâneas Icq e MSN e adorava o Orkut. Depois se afeiçoaria ao Facebook. Ele percebeu que estava dependente quando, em viagens com a mulher para o sítio da família, no interior do Rio, passou a se sentir mal por estar desconectado.

“A internet só pegava no alto de um morro, então eu deixava minha mulher em casa e subia sozinho para ficar lá em cima duas ou três horas, vendo Facebook, postando fotos da viagem…”, conta Corrêa, que chegou a comprar um smart watch (relógio inteligente) porque assim poderia receber notificações dos aplicativos do Facebook e do WhatsApp sem ter de nem sequer pegar o celular.

Em 2014, ao notar o trabalho prejudicado pela adição, ele procurou ajuda. Percebeu que o quadro de ansiedade extrema, estresse e síndrome do pânico estava ligado à dependência digital. Curou-se após tratamento, o “detox digital”, que dura dois meses no Instituto Delete, ligado ao Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“A gente aprende como contornar a ansiedade com respiração e pensamentos positivos. Se vejo que estou usando muito, paro. Sei que estou curado porque consegui ficar duas semanas no sítio sem internet.”

O atendimento do instituto, no campus da UFRJ da Praia Vermelha (zona sul), começou em 2012, e já recebeu mais de 300 pessoas. Os seis membros da equipe pesquisam há sete anos a chamada nomofobia (“nomo” vem de “no mobile”, que quer dizer “sem celular”) e publicaram teses relacionadas ao tema. Em breve, devem lançar manual de etiqueta digital.

Estudada nos EUA há 20 anos, a dependência é quase invisível socialmente. Revela-se quando a relação com a internet deixa de ser casual e se torna obsessiva, atrapalhando relações sociais e atividades rotineiras e criando isolamento.

Farmville

Já houve paciente que narrou ter passado madrugadas no Farmville, jogo do Facebook. Outros que só pegavam no sono com o celular sob o travesseiro. Caso esqueçam o smartphone ao sair de casa, têm crises de abstinência e voltam com taquicardia e mãos trêmulas. Alguns largaram trabalho e faculdade; adolescentes perderam o ano. Tudo por causa das horas excessivas no computador, tablet ou celular.

“Muitos adictos em tecnologia também têm adição em outras coisas. O mecanismo neurobiológico é o mesmo: o uso libera substâncias que dão prazer, então a pessoa quer mais e mais. A mesma área do cérebro é estimulada”, explica a psicóloga Veruska Santos, que já atendeu 84 pacientes graves.

“A diferença é que no tratamento não se corta totalmente a conexão, se faz terapia cognitiva para transformar os pensamentos e ensinar a lidar com a ansiedade. Em seguida, negociamos o tempo que passará na internet.” As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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