Em seis meses, o técnico Tite se tornou a cara da retomada da seleção brasileira, com seis vitórias em seis jogos. A base desta campanha, no entanto, tem outros rostos. Um deles é o do chefe de Tite, o coordenador técnico da seleção Edu Gaspar. Ao lado do próprio treinador, ele é um dos responsáveis por uma nova organização do trabalho da comissão técnica, com jornadas diárias na sede da CBF, no Rio, novas ferramentas de análise de desempenho dos jogadores e o pé na estrada para observá-los. Foram 80 partidas assistidas pela comissão técnica in loco, 18 deles fora do Brasil.
Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S.Paulo, ele fala sobre a tabelinha de seis anos com o treinador que virou unanimidade nacional. Sobre o relatório da CPI do Futebol que pede o indiciamento de dirigentes, entre eles, o do presidente Marco Polo Del Nero, diz que sua “responsabilidade é a seleção”.
Como explicar essa retomada da seleção após a Copa?
O Tite é um técnico extraordinário. Ele consegue combinar o conhecimento tático com um lado humano, educado e sensível. Com o trabalho da comissão técnica, conseguimos trazer os atletas para uma realidade futebolística que a gente acredita que deve formar o trabalho da seleção.
O que é ser chefe do Tite?
Temos um entrosamento muito grande. Já trabalhamos juntos há seis anos. Mas, em alguns casos, considero o trabalho do treinador acima do cargo do gestor. Quem toma a última decisão é o treinador. Estamos sempre bem alinhados.
Como funciona o trabalho no cotidiano?
Temos uma dinâmica antes e outra depois da convocação. Na primeira, o cotidiano se parece com as empresas, com o mundo corporativo. Eu, o Tite e os auxiliares estamos na CBF todos os dias. Faço a coordenação técnica, logística, análise dos regulamentos, a parte de gestão em si. Um dos desafios é trabalhar sem o campo de futebol. Depois da convocação, vivemos a dinâmica dos treinos, estratégia do jogo e análise mais detalhada do adversário, jogador por jogador.
O que é trabalhar sem o campo de futebol?
Nos clubes, a dinâmica de trabalho é feita nos treinos. A seleção brasileira só consegue fazer isso depois da convocação.
Como contornar isso?
Uma das estratégias foi observar os jogos e treinos in loco. Quando conseguimos observar o jogador de perto, aumentamos as chances de uma convocação correta, trazendo sempre os melhores atletas. Outra saída foi usar a tecnologia.
Que tipo de tecnologia?
Temos o Centro de Pesquisa e Análise que analisa os jogos em vídeo com inúmeras informações e estatísticas. Tudo muito detalhado e minucioso. Além disso, temos novas ferramentas de análise de desempenho como o Hipod.
Como funciona?
É uma espécie de mastro na beira do gramado com uma câmera e um visor na altura do operador. As imagens são feitas de uma altura de até sete metros para captar a movimentação de um time. Na sede da CBF, temos telões interativos para analisar as partidas.
Você trouxe essas ideias da Inglaterra?
Uma parte sim. Fiz vários cursos de gestão lá, mas os da CBF também. Desde a época do Corinthians (foi gerente de 2010 a 2016), nós criamos uma forma de trabalho e, neste ano, passamos a adaptá-la à seleção. A tecnologia faz parte do cotidiano e completa a sensibilidade do Tite.