Na abertura da Conferência das Partes sobre o Clima em Sharm El-Sheikh, no Egito, o presidente da edição anterior, o inglês Alok Sharma, passou o bastão para o egípcio Sameh Shoukry, que pilotará a COP-27. "Fizemos avanços enormes, o mundo antes do Acordo de Paris, em 2015, e da Rio-92 era muito diferente e pior que hoje", disse Sharma em discurso no domingo, 6. "Queremos que esta seja a COP da implementação", afirmou Shoukry em sua vez de falar.
O diplomata egípcio, ex-ministro das Relações Exteriores em seu país, se referia ao fato de que a COP-26, em Glasgow, concluiu os últimos detalhes do Acordo de Paris – o "livro de regras".
Definidas as diretrizes, é hora de intensificar os resultados práticos. A meta é conter o aumento da temperatura para 1,5 grau Celsius até 2100, em relação ao início da revolução industrial. Não se trata, no entanto, de um objetivo para o futuro, mas de algo que já se faz sentir no presente – e de maneira especialmente dramática nos países mais pobres.
As enchentes deste ano, que deixaram metade do Paquistão sob as águas, e a fome na Somália, ao sul de Sharm El-Sheikh, devido a secas recorrentes, são exemplos disso. O objetivo de longo prazo – salvar a vida no planeta – foi atropelado por uma questão urgente: evitar a morte e a destruição que a mudança climática já vem espalhando pelo mundo.
"De quantos alertas os líderes ainda precisam?", questionou Alok Sharma em seu discurso. "Há muito mais a ser feito nesta década crítica."
<b>Recursos</b>
As discussões prévias realizadas no final de semana colocaram o tema das "perdas e danos" no centro da conferência da Organização das Nações Unidas (ONU). Os maiores responsáveis pela mudança climática são os países do "Norte" global, que se industrializaram ao custo de emissões ilimitadas de gases.
Quem sofre as maiores consequências, no entanto, são os países do "Sul", como Somália ou Paquistão, que reivindicam algum tipo de reparação financeira. A isso os ambientalistas chamam "perdas e danos". Estados Unidos e Europa consideram justa uma transferência de recursos do "Norte" para o "Sul", mas não gostam da ideia de reparação histórica.
Há um outro complicador na discussão sobre "perdas e danos". A Guerra da Ucrânia colocou a Europa em crise energética e alimentar. A inflação chegou com força e os orçamentos se estreitaram, deixando menos dinheiro para subsídios. A transição para a energia limpa, nos termos previstos pelo "European Green Deal", também ficou prejudicada. O consumo de combustíveis fósseis disparou, multiplicando os lucros das empresas petrolíferas, e voltou-se a usar energia oriunda da queima de carvão, para diminuir a dependência do gás russo.
A situação compromete ganhos recentes, expostos pelo ensaísta americano David Wallace-Wells em artigo publicado na semana passada no jornal <i>The New York Times</i>. Há cinco anos, um levantamento de Wells mostrou que o mundo caminhava para um aumento de 5 graus Celsius até 2100, o que praticamente inviabilizaria a vida no planeta. De lá para cá, no entanto, as coisas melhoraram, e a perspectiva de aumento caiu para entre 2 e 3 graus Celsius.
Ele mapeia as razões e acha que dá para manter o objetivo de 1,5 grau. O uso de energia à base de carvão começou a diminuir consistentemente. Os preços das energias renováveis caíram – 85% a solar, 55% a eólica – tornando-as alternativas viáveis aos combustíveis fósseis. Por último, começa-se a sentir de forma mais efetiva a atuação de governos e empresas. Wells cita o subsídio do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, às energias renováveis.
<b>Brasil</b>
Uma conferência do clima não se limita às discussões na Zona Vermelha, onde se reunirão os chefes de Estado, como Biden e o presidente da Franca, Emmanuel Macron, e os primeiros-ministros de Alemanha e Reino Unido, Olaf Sholz e Rishi Sunak.
A interação deles com líderes de países emergentes deverá dar o tom da discussão sobre o tema. O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, também irá a Sharm El-Sheikh.
Os cientistas, ativistas, empresários e ambientalistas credenciados ficam em outro lugar, a Zona Azul, onde são montados os pavilhões dos países. O Brasil sempre trouxe às COPs comitivas gigantes. Neste ano, são esperados 800 brasileiros, que participarão de três pavilhões. O da sociedade civil, "Brazilian Action Hub", o do governo federal e o dos Estados da Amazônia Legal.
O Brasil é o único país a ter três pavilhões na Zona Azul, e a Amazônia Legal é um dos poucos entes subnacionais representados.
Para além da transição energética, um outro vetor de combate à mudança climática é a preservação das florestas.
Na COP-27 serão discutidos projetos para as regiões da Indonésia, do Rio Congo, e da Floresta Amazônica, a maior mata tropical do planeta. Numa era de crise econômica, preservar florestas é uma oportunidade de melhorar a pegada de carbono, com ganhos sociais e humanos.
O Brasil pode desempenhar um papel importante nessa área – e se tornar protagonista na COP-27 e no debate internacional sobre a economia do futuro.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>