O Brasil está vivendo um momento muito especial, com a realização da Copa das Confederações, que reúne até o final deste mês oito seleções mundiais e se configura como o pontapé inicial para uma série de eventos esportivos no país nos próximos anos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Só para a Copa das Confederações são esperados cerca de mil empresários estrangeiros, além de milhares de turistas, que devem visitar o Brasil para assistir aos jogos e conhecer e consumir os produtos e serviços nacionais. Sem dúvida, o evento vai gerar receitas para o país em termos de turismo. E será também um teste para identificarmos problemas a serem sanados antes da Copa. Porém, o Brasil vive uma difícil situação em termos de segurança e saúde pública, e os gastos do evento vêm sendo muito questionados.
Quando anunciada a realização da Copa mundo no Brasil, para os amadores do esporte, como eu, o entusiasmo foi grande, com a possibilidade de os investimentos essenciais em infraestruturas modernas, centros de treinamento multiuso, e melhorias na segurança pública serem potencializados para o povo brasileiro. Isso sem contar a diversão garantida, que iria contagiar a todos nós.
Pois bem. Em termo de resultado factível para a população sobrou somente a diversão. E essa será usufruída de forma desigual. Apenas alguns poucos terão acesso aos estádios (os privilegiados). A grande maioria dos brasileiros só poderá mesmo assistir aos jogos pela televisão.
Não há como ser amante de esporte e não sentir orgulho de que o nosso país seja a sede da Copa do Mundo. Entretanto, dada a importância do evento, os gastos decorrentes da sua organização precisam deixar um legado duradouro para a população. Precisamos de políticas publicas eficientes para que as crianças e os jovens do Brasil possam usufruir desses estádios e centros de treinamento e não apenas aqueles que se tornam atletas de ponta.
Infelizmente, o Brasil está prestes a perder essa oportunidade de dar o mesmo salto que deu na economia para se tornar um país desenvolvido. E isso se deve à falta de políticas publicas competentes, excesso de burocracia e gastos mal direcionados. O planejamento inicial apresentado em 2007 para a candidatura do Brasil à Copa de 2014 previa 720 milhões de reais. Em 2010, a estimativa já passava de 17 bilhões, e no início de 2012, as cifras chegavam a 23 bilhões. Esse investimento precisa dar retorno. Teme-se que muitos estádios tornem-se verdadeiros “elefantes brancos”, sem utilização pela população.
Enquanto as despesas não param de aumentar, o entusiasmo dos brasileiros continua baixando. O cenário desastroso apresentado pela pesquisa Fora de campo, realizada pela Hello Research e divulgada no início deste mês, indica que 71% dos entrevistados acreditam no desvio de recursos públicos. Isso é extremamente preocupante.
Em um país como o nosso, tão carente de investimentos em educação, cultura e esporte para todos, esses eventos deveriam servir como estímulo à prática esportiva cotidiana, ao sentimento de pertença de uma nação, à alegria de partilhar as conquistas e ao respeito aos adversários. Cabe, portanto, ao nosso poder público e a cada um de nós estarmos atentos aos gastos e investimentos em nome do esporte.
Neste aspecto, devemos questionar: a Copa do mundo é para quem? Para os políticos ou para o povo? Houve efetivamente uma conversa com a população brasileira, com as entidades de classe? Ou apenas um pequeno grupo participou da “festa”? O legado do evento ficará para quem? Será de fato para o povo usufruir? Por isso, questiono se o evento será sadio parta o país, quando se pensa em termos de desenvolvimento social.
Torço para que o Brasil continue brilhando e saia da posição vexatória que está no ranking da FIFA. Torço para que o Brasil crie muitos craques, mas não só nos campos. Devemos pensar que, para cada craque que surja nos campos, precisa surgir também um grande cientista, um grande pensador, um grande cineasta, um grande professor. Só assim teremos um país campeão em todas as áreas da vida.
Boa Copa das Confederações a todos. Vai Brasil!!!
Jean Gaspar, mestre em Filosofia pela PUC/SP, é presidente da Liga do Desporto, entidade que promove atividades físicas e desportivas como instrumento de educação e formação da cidadania.