Estadão

Copa do Mundo feminina é marcada por zebras, adeus a ídolos e recordes de audiência

A maior edição das copas femininas termina como prometeu ser desde o começo: histórica. Do adeus à craques até um título inédito, a Copa do Mundo de 2023 reuniu grandes momentos nos países-sede, Austrália e Nova Zelândia.
Zebras

A Copa do Mundo de 2023 ficou marcada pela queda precoce de diversas seleções tradicionais do futebol feminino. Na fase de grupos, três grandes equipes falharam em se classificar para o mata-mata: Alemanha, Brasil e Canadá. As europeias perderam para a Colômbia e empataram com a Coreia do Sul na primeira fase, o que acabou encerrando a participação das bicampeãs mundias de forma precoce.

Já as atuais campeãs olímpicas sofreram uma estrondosa goleada contra a Austrália na última partida da fase de grupos e deram adeus à competição. É a primeira vez na história que a campeã olímpica é eliminada na primeira fase do torneio.

O Canadá, no entanto, sofreu com problemas extracampo: A Federação Canadense de Futebol não pagou o que havia combinado com a seleção feminina de futebol. Ao longo do Mundial, as jogadoras trocaram acusações contra a organização e até conseguiram um acordo provisório de pagamento igualitário, mas tiveram que ceder boa parte da premiação do torneio para a federação pagar bônus que ela devia à seleção masculina.

O Brasil até começou bem, goleando o Panamá e encantando o mundo com um bom futebol. Na partida contra França, entretanto, uma dificuldade em ficar com a bola e falhas de marcação no jogo aéreo decretaram a derrota brasileira. A seleção comandada por Pia Sundhage dependia só de si mesma para se classificar, mas não conseguiu vencer o bloqueio jamaicano e viu a Matar se despedir de forma melancólica de seu último mundial.

Por fim, a última grande zebra não ocorreu na fase de grupos, mas nas oitavas de final. Os Estados Unidos não fizeram boa campanha e quase caíram para Portugal na primeira fase. As tetra campeãs mundial passaram em segundo lugar do grupo e, no jogo contra a Suécia pela primeira partida de mata-mata, foram incapaz de produzir uma boa partida e acabaram sendo eliminadas nos pênaltis. Antes do início do torneio, elas eram consideradas uma das favoritas ao título.

ADEUS A MARTA, SINCLAIR E RAPINOE
O Mundial da Austrália e da Nova Zelândia também ficou marcado pelo adeus de grandes jogadoras. Nomes como a brasileira Marta, a canadense Christine Sinclair e a americana Megan Rapinoe deram adeus ao maior torneio do futebol feminino. Curiosamente, todas as craques que anunciaram sua aposentadoria da Copa tiveram despedidas melancólicas, com suas seleções apresentando baixo desempenho na competição.

"Nem nos meus piores pesadelos com a Copa do Mundo eu imaginava isso", afirmou a camisa 10 do Brasil após a eliminação. "O povo brasileiro está tendo renovação (na seleção), a única velha aqui sou eu e talvez a Tamires. São meninas de talento, caminho enorme pela frente. Eu termino aqui, mas elas continuam. Vocês pediram renovação, está acontecendo. Eu quero que as pessoas do nosso Brasil continuem tendo o mesmo entusiasmo que tiveram quando começou a Copa. Que continuem apoiando. As coisas não acontecem de um dia para o outro".

A eliminação de Rapinoe foi particularmente cruel. No banco pela maior parte da partida, a atacante de 38 anos entrou no final da partida e acabou perdendo um dos pênaltis decisivos que eliminaram os EUA. Ela, no entanto, riu da situação e classificou como uma "piada de mal gosto". Apesar da tristeza. Rapinoe disse se sentir com a missão cumprida, afinal, foi protagonista na conquista de dois títulos mundias por sua seleção.

"Ouvi o que ela falou outro dia, sinto isso por ela", disse a americana ao comentar a fala de despedida de Marta. "Pelo que ela fez pelo jogo, pela forma como ela joga. A alegria com que ela joga. Nunca vi nada igual. Sobre a fala dela, sobre tornar o jogo melhor do que quando começou, sinto que eu faço parte disso. Estou muito orgulhosa", comentou.

RECORDE DE AUDIÊNCIA
A Copa do Mundo de 2023 foi o Mundial feminino mais visto da história. Somente na fase de grupos, 1.222 milhão de espectadores foram aos estádios, com uma média de mais de 25 mil pessoas por jogo. Esses números representam um aumento de 29% em relação à Copa do Mundo de 2019 na França somente nessa fase da competição.

A partida entre Espanha e Suécia, válida pela semifinal do Mundial, que ocorreu na última terça-feira, dia 16, foi assistida por 43.217 torcedores no Eden Park, em Auckland. A quantidade é a lotação máxima do estádio e iguala o recorde de maior público registrado em um jogo de futebol no país, seja na modalidade masculina ou feminina. A marca histórica já havia sido atingida no Mundial de 2023 durante as quartas de final entre Japão e Suécia.

Já na Austrália, o sucesso inédito das Matildas – elas jamais chegaram à uma semifinal de Copa do Mundo -, vem transformando o futebol em paixão nacional. O jogo das quartas de final contra a França foi o evento esportivo mais assistido no país desde a Olimpíada de Sidney, em 2000. Mais de 7 milhões de pessoas assistiram a tensa disputa de pênaltis, que contou com 20 cobranças, e a surpreendente classificação da seleção australiana.

No Brasil, a CazéTV e a Rede Globo também apresentaram índices de audiência históricos em suas transmissões. No YouTube, o canal do apresentador e streamer Casimiro Miguel quebrou o recorde de uma transmissão de futebol feminino na plataforma de streaming. Mais de 1 milhão de aparelhos estiveram conectados durante a vitória por 4 a 0 contra o Panamá.

Fora da internet, a Globo também quebrou recordes de audiência na TV aberta. Segundo dados prévios, com a estreia da seleção feminina na Copa, a emissora teve a maior audiência na faixa (08h01 às 9h57) desde agosto de 2008, com cerca de 16 pontos na PNT. É um crescimento de 100% em comparação com a mesma faixa nas últimas quatro semanas.

SURPRESAS
Se o torneio ficou marcado pela queda precoce de gigantes, inúmeras seleções surpreenderam e fizeram campanhas históricas. É a primeira vez que 32 seleções participam da competição feminina, antes eram 16. Ao todo, foram 8 times que estrearam em uma Copa do Mundo – Haiti, Marrocos, Panamá, Filipinas, Portugal, Irlanda, Vietnã e Zâmbia.

Jamaica, Marrocos, Colômbia e a própria Austrália foram alguns dos times que fizeram boas atuações e chegaram mais longe do que era esperado. Enquanto as caribenhas e as africanas alcançaram às oitavas de final pela primeira vez, a Colômbia chegou às quartas e a Austrália à semifinal.

Alguns críticos do novo modelo alertavam sobre a possibilidade de um maior desnível técnico com o aumento das equipes que disputariam o torneio. O que se viu, no entanto, foi uma competição extremamente disputada em que as seleções mais tradicionais sofreram, e em muitos casos não conseguiram, vencer as equipes "mais fracas".

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