Quem passa hoje pela orla mais famosa do Brasil talvez não imagine que, há menos de um século, Copacabana nada mais era do que um grande areal. Sem luz elétrica ou encanamento, a praia e o seu entorno eram úteis apenas a pescadores artesanais e para quem buscava um lugarzinho sossegado à beira-mar. Foi aí que o empresário Octávio Guinle decidiu construir um hotel majestoso que, nas décadas seguintes, receberia celebridades, políticos ou gente comum do mundo todo. Não é exagero dizer que a história daquele bairro se divide em antes e depois do Copacabana Palace. E é ela que será contada a partir de hoje com a estreia de Copacabana Palace – O Musical, peça que reinaugura seu histórico teatro neste sábado, 18.
Apresentar a história secular de um dos mais badalados hotéis do País em apenas duas horas é sem dúvida um desafio, mas que as possibilidades oferecidas por uma peça de teatro são capazes de superar. As autoras, Ana Velloso e Vera Novello, decidiram mostrar a vida do Copa – como quase todo carioca ou habitué do local costuma se referir ao hotel – a partir de um olhar feminino: o de Mariazinha Guinle, mulher de Octávio.
"Essa mulher teve um papel muito importante na história do Copa. Ela viveu um conflito fundamental, que foi um divisor de águas", explica Ana, referindo-se a uma proposta de venda do empreendimento que surgiu após a morte de Octávio. "Nossa narrativa parte da memória dessa mulher, que viveu a vida toda no Copa."
O musical é dirigido pela dupla Gustavo Wabner e Sergio Módena. Suely Franco e Vannessa Gerbelli interpretam dona Mariazinha em diferentes épocas, enquanto Claudio Lins dá vida a Octávio. Ao todo, 20 artistas, entre atores, bailarinos e músicos, fazem parte do espetáculo.
<b>TEATRO DESATIVADO</b>
Wabner conta que a ideia de produzir algo sobre o Copacabana Palace começou a surgir em 1997. À época com 21 anos, ele foi convidado para um trabalho no hotel durante o carnaval e se perdeu entre os corredores. "Lá pelas tantas eu vi uma portinha que estava encostada e abri. Era o teatro, desativado, com o palco vazio, a plateia vazia. Tomei um choque muito grande, porque eu não sabia que aqui tinha um teatro e com essa dimensão", relembra, sentado em uma das novas poltronas. "Nesse dia eu saí daqui com uma interrogação gigantesca: qual a história deste teatro? Deste hotel? Foi nesse dia que essa sementinha começou a brotar."
Ele dirige a peça ao lado de Sergio Módena, com quem já realizou outros trabalhos. "Sempre fico empolgado com a questão de estar produzindo, criando ou dirigindo um musical brasileiro", relata Módena.
Sobre Copacabana Palace – O Musical, Módena considera que o recorte escolhido irá agradar ao público. "Há histórias muito representativas, que combinam umas com as outras. Entraram histórias como a do Orson Welles hospedado aqui, Carmen Miranda, Marlene Dietrich, a evocação do Frank Sinatra, Cauby Peixoto. São figuras muito representativas dessa característica do Copa de unir a cena nacional e a cena internacional."
Escolhida para interpretar Mariazinha, Suely Franco está animada – esta é a 90.ª peça dela na carreira. "Todo carioca, ou mesmo todo mundo, quando fala em Copacabana Palace vem à cabeça uma coisa de grandiosidade, de luxo, uma coisa gostosa, de restaurantes maravilhosos. Fiquei muito satisfeita de contar uma parte da história dela (Mariazinha)."
REINAUGURAÇÃO. Ainda que não tivesse sido esse o objetivo, o musical sobre o Copacabana Palace vai estrear com uma feliz coincidência, como os envolvidos na peça gostam de falar: ele vai marcar a reabertura do teatro do hotel, que estava fechado desde 1994.
Considerado um dos grandes palcos do País, ao longo das décadas o espaço recebeu Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Tônia Carrero, Renata Sorrah, Marieta Severo e a própria Suely Franco, entre tantos outros nomes. "Me apresentei uma vez, fazendo uma peça do João Bittencourt, Tem Um Psicanalista Na Nossa Cama. Foi uma comédia de muito sucesso", recorda a atriz.
Totalmente reformado, o novo Teatro Copacabana Palace tem capacidade para 332 lugares, sendo 238 na plateia e 70 no balcão, além de 18 assentos distribuídos entre quatro frisas e seis camarotes. A acessibilidade e a mobilidade estão contempladas no projeto, com poltronas para pessoas obesas e com mobilidade reduzida, além de espaços destinados a cadeirantes.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>