A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de quarta-feira, 2, sacramentou no mercado a avaliação de que o ritmo de cortes de 0,5 ponto porcentual da taxa Selic por reunião do colegiado será a "velocidade de cruzeiro" do ciclo de afrouxamento. Mas, entre economistas, há quem veja espaço para aceleração do ritmo a 0,75 ponto à frente – uma aposta que pode, inclusive, crescer no mercado de juros, conforme apurou o <i>Broadcast</i>(sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).
O colegiado reduziu os juros em 0,5 ponto porcentual, de 13,75% para 13,25%. A decisão não apenas foi dividida – vencedora por cinco votos, contra quatro que defenderam uma baixa mais amena, de 0,25 ponto -, como divergiu das expectativas da maioria dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast – de 88 instituições, 62 (70%) esperavam corte de 0,25 ponto, contra apenas 26 (30%) que previam baixa de 0,50. Essa foi a primeira divergência entre o Banco Central e o consenso do mercado desde março de 2021.
Apesar da decisão dividida, o comitê informou que seus membros "unanimemente" preveem reduções da mesma magnitude nas próximas reuniões. Como resultado, instituições como Banco BV, Barclays, BNP Paribas, G5 Partners e Warren Rena diminuíram suas projeções para a taxa Selic no fim de 2023, de 12% para 11,75% em todos os casos. As revisões incorporam a baixa 0,25 ponto porcentual maior do que o esperado em agosto, seguida por cortes de 0,5 ponto nas reuniões do Copom de setembro, novembro e dezembro.
O diretor de pesquisa para América Latina do BNP Paribas, Gustavo Arruda, classificou a decisão como um "corte hawkish", devido ao esforço da autoridade monetária para sinalizar um ritmo contido para os próximos ajustes. Na avaliação do analista, o mais provável é que a comunicação do Copom transforme os cenários de cortes de 0,75 ponto porcentual nas próximas reuniões em "riscos de cauda" embutidos nos preços de ativos, embora essa precificação possa crescer com o tempo.
"Entre os cenários possíveis, cortes de 0,5 ponto são a base, e tem um risco de cauda de 0,75 ponto, que pode aumentar à medida que o tempo vai passando. Eu entendo o que tentaram fazer, mas não tenho muita certeza sobre se isso vai mudar as coisas", afirma Arruda.
Na mesma linha, o sócio e economista-chefe da Quantitas, Ivo Chermont, afirma que o Copom buscou adotar um tom hawkish para aparar as apostas de uma redução em ritmo maior, de 0,75 ponto porcentual. No entanto, a tendência é que o comunicado não seja suficiente para zerar as projeções. "Pessoalmente acho que o mercado vai ficar dividido entre 50 e 75 pontos-base, mas a probabilidade deve se concentrar bem no 50. A não ser que os dados comecem a vir maravilhosamente bem", afirma.
O economista da ASA Investments Leonardo Costa avalia que a surpresa com a magnitude do corte em agosto abre a possibilidade de aceleração do ritmo de quedas, já que o BC poderia ter agido com maior "parcimônia" em um cenário desafiador, com os núcleos de inflação ainda elevados. Para o analista, uma redução da taxa Selic em 0,75 ponto porcentual já na próxima reunião do Copom, nos dias 19 e 20 de setembro, não pode ser descartada.
"Uma vez que o ciclo começou com um corte de 0,50 ponto e o BC está confiante em seu cenário, o risco é dar um pouco mais na próxima reunião, a depender do comportamento da inflação. Essa possibilidade não é o nosso cenário base, mas existe, sim. Está na mesa", afirma Costa, que também reduziu de 12% para 11,75% a sua projeção para a taxa Selic no fim de 2023.