Em reunião que começa nesta terça-feira, 14, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve elevar a Selic (a taxa básica de juros) em 0,50 ponto porcentual – de 12,75% para 13,25% ao ano. Mas, na avaliação do mercado, o colegiado ainda não deve indicar uma data para o encerramento do ciclo de aperto monetário. Desde sua última reunião, em maio, a inflação global voltou a assustar e os riscos fiscais se intensificaram no País, com o novo pacote do governo para os combustíveis, sem sinais firmes de melhora do cenário de preços.
Em tese, a redução temporária de impostos incidentes sobre os combustíveis poderia atrapalhar ainda mais a tarefa do BC de levar a inflação para a meta, com um possível efeito "rebote" aumentando as chances de um terceiro ano consecutivo de rompimento da meta em 2023. Nesse contexto, a maioria dos economistas consultados pelo <b>Estadão/Broadcast</b> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) avalia que a alta da Selic não deve terminar neste mês e que o Copom deve manter na mesa todas as opções para o encontro de agosto – uma nova alta de juros ou o início do período de estabilidade.
A este quadro se soma a falta de informações sobre as variáveis que o Copom vai usar para atualizar seus modelos de inflação, uma vez que não houve até o momento atualização do Boletim Focus com as estimativas do mercado financeiro da semana passada – consequência de paralisação de servidores da autarquia. No relatório divulgado no último dia 6, a mediana para o IPCA (índice oficial de inflação) de 2022 estava em 8,89%, já bem acima do teto da meta (5%). Para 2023, o número considerado pelo mercado era de 4,39%, mais próximo do limite de 4,75% do que do centro da meta (de 3,25%).
Sondagem do Projeções Broadcast para a Selic mostra que 46 das 50 instituições financeiras consultadas estimam que a Selic passe para 13,25% nesta semana, em ajuste inferior ao aumento de um ponto porcentual determinado em maio. Sobre o fim do ciclo de aperto monetário, as expectativas estão divididas: 25 de 49 casas apostam em 13,25%, enquanto 24 esperam 13,50% ou mais.
<b>Efeito</b>
O aumento do juro básico da economia se reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.
No JPMorgan, o ativismo fiscal do governo com relação aos preços de energia foi decisivo para alterar a perspectiva para a Selic, de 13,25% para 13,75%, com mais uma alta de 0,50 ponto em agosto. "A estratégia ótima de comunicação parece ser de o Copom deixar todas as opções na mesa, sinalizando no comunicado que considera outro ajuste em agosto como possível, em uma magnitude não superior à de junho", disse o banco em relatório.
Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, também avalia que o BC deve acabar indicando nova alta da Selic em agosto, com a inflação de serviços bastante salgada, desancoragem de expectativas e ausência de um processo claro de desinflação – pontos que o BC já afirmou que quer combater. Damico também afirma que o balanço de riscos tende a piorar, em face das maiores ameaças fiscais e da forte persistência inflacionária no exterior.
Já o sócio-fundador da Mauá Capital e ex-diretor do BC, Luiz Fernando Figueiredo, avalia que o BC pode ter condições de encerrar o ciclo de alta da Selic nesta semana, considerando que o pico da inflação já passou (o IPCA em 12 meses caiu de 12,13%, em abril, para 11,73% em maio) e que o juro real está em nível bem contracionista. Mas pondera que o cenário ainda recomenda que o BC não seja assertivo: "A gente ainda está em um terreno bem movediço, a maré não acalmou".
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>