Um jovem hoje no
Brasil felizmente não conhece uma situação que, no passado, incomodou muito os
pais dele. A da submissão durante um ano à hierarquia e à disciplina dos
militares, na dura rotina dos quartéis, numa fase na qual o ânimo deles os
empurrava para a praia, as festas, o convívio alegre e livre com outros jovens.
Muitos daqueles jovens,
no entanto, conseguiam escapavam do temido Serviço Militar Obrigatório, se
valendo de astúcias. Uma das quais consistia em exibir trejeitos afeminados
diante da banca militar, no momento da seleção dos novos recrutas.
Por que os supostos
homossexuais eram imediatamente rejeitados? Dentro da mentalidade machista da
época, se imaginava que eles fossem pessoas privadas de um traço de caráter, a
coragem, indispensável numa eventual guerra.
Quanto engano, como demonstrava
publicamente, na mesma época, no Rio de Janeiro, o homossexual João Francisco
dos Santos Sant´Anna. Personagem de destaque da movimentada vida noturna carioca,
na qual era chamado de Madame Satã, João, muitas vezes lutou sozinho contra
vários policiais, quando se sentiu ofendido por eles devido à sua
homossexualidade.
Por coincidência, também no Rio de Janeiro,
outro homossexual deu uma demonstração de valentia, há poucos dias.
Diferentemente de Madame Satã, porém, Gleen Greenwald não vive no universo da marginalidade.
Ao contrário, sua condição de jornalista com acesso a importantes publicações
dos Estados Unidos, o coloca numa esfera de poder político que lhe permite
atingir até mesmo o poderoso governo dos Estados Unidos. E foi isto que Gleen fez, correndo todos os
riscos, quando, há uma semana, denunciou um gigantesco sistema de espionagem
montado pela Agência Nacional de Segurança (ANS) norte-americana. O objetivo do
sistema: obter registros telefônicos e informações de correios eletrônicos
“capaz de destruir a privacidade e o anonimato, não só nos EUA, como em todo o
mundo”, revelou Gleen.
A denúncia teve ampla repercussão, mas poucas
pessoas deram atenção à explicação fornecida pelo norte-americano à Laura
Bretano do site G1 para sua ligação com o Rio de Janeiro. Lá, o casamento dele
com outro homem pôde ser oficialmente reconhecido. No Brasil, eles podem morar juntos,
acrescentou Gleen àquela repórter.
Tomara que os exemplos
de João Francisco e Gleen Greenwald fortaleçam ainda mais a coragem dos
homossexuais brasileiros que continuam lutando pelo respeito à dignidade humana
deles!