A Coreia do Sul suspendeu nesta quarta-feira, 22, uma zona de exclusão aérea na fronteira com a Coreia do Norte e abriu caminho para retomar a vigilância aérea no território, um dia depois do lado norte-coreano ter colocado seu primeiro satélite espião em órbita. A zona de exclusão aérea foi acordada entre os dois países em 2018 para aliviar tensões militares. Em resposta ao lançamento do satélite, a Coreia do Sul disse que não a respeitaria mais.
O lançamento do satélite recebeu atenção da mídia estatal da Coreia do Norte e foi considerado bem-sucedido, após duas tentativas anteriores, em maio e agosto, que falharam por mau funcionamento do foguete.
Segundo a Agência Central de Notícias da Coreia do Norte, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, visitou a Administração Nacional de Tecnologia Aeroespacial em Pyongyang após o satélite ser lançado e viu fotos aéreas que o equipamento tirou da Base Aérea de Anderson e outras instalações militares americanas na ilha de Guam, no Pacífico Ocidental. A agência de notícias acrescentou que o satélite, nomeado Malligyong-1, iniciará de forma oficial a missão de reconhecimento no dia 1.º de dezembro, após vários dias de ajustes.
Durante a visita, Kim pediu ao país que lance mais satélites de reconhecimento para que seus militares tenham " olhos com vista para uma distância muito longa", e "um punho forte batendo uma distância muito longa", em uma aparente referência ao crescente arsenal de mísseis nucleares do Norte.
Quando a Coreia do Norte colocou satélites científicos experimentais em órbita em 2012 e novamente em 2016, o ditador afirmou que os equipamentos transmitiam sons "revolucionários" do espaço. Mas as autoridades ocidentais disseram que não conseguiram detectar nenhum sinal vindo dos satélites e que eles acabaram desintegrados após saírem de órbita.
Desta vez, os militares sul-coreanos reconheceram que a Coreia do Norte conseguiu colocar Malligyong-1 em órbita, mas ressalvam que precisam de mais análises para determinar se o satélite está funcionando ou não. O professor da Universidade Aeroespacial da Coreia, Chang Young-keun, afirmou que é muito cedo para determinar se o equipamento foi capaz de abrir os painéis solares para carregar a bateria e, em seguida, enviar sinais e imagens para a estação.
Os governos dos Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul afirmaram que o lançamento é uma violação de resoluções do Conselho de Segurança da ONU que proíbem a Coreia do Norte de lançar foguetes espaciais e condenaram o ato. O país, que possui armas nucleares, tem sido repetidamente acusado por Washington e aliados de usar o programa espacial como cobertura para o desenvolvimento de tecnologias de mísseis balísticos de longo alcance.
Kim assistiu ao lançamento do foguete na estação de lançamento Tongchang-ri acompanhado de altos funcionários responsáveis pelos programas nuclear e de mísseis do Norte, incluindo Jang Chang Ha, diretor-geral do Escritório Geral de Mísseis do Norte.
Em resposta ao lançamento do Malligyong-1, a Coreia do Sul agiu rápido para anular parte do acordo que assinou com a Coreia do Norte em 2018 para aliviar as tensões militares. O acordo estabeleceu uma zona de exclusão aérea ao longo da fronteira intercoreana e proibiu voos de vigilância aérea e exercícios militares de fogo real lá.
O governo conservador do presidente Yoon Suk Yeol ameaçou frequentemente descartar o acordo com a justificativa de que a capacidade de monitoramento da Coreia do Norte havia sido minada. O líder sul-coreano também acusou o lado norte de desrespeitar o acordo repetidamente com exercícios de artilharia próximos à fronteira e levantou o temor de ataques surpresas.
"A Coreia do Norte deixou claro que não está interessada em aliviar as tensões militares na Península Coreana ou em cumprir o acordo militar para construir confiança", disse o primeiro-ministro da Coreia do Sul, Han Duck-soo, nesta quarta-feira.
Segundo autoridades que analisaram os destroços dos lançamentos fracassados, o Malligyong-1 tinha, pelo menos nas ocasiões anteriores, apenas funções rudimentares como satélite espião, incapaz de fornecer imagens de alta resolução que países como os Estados Unidos obtêm de satélites.
Acredita-se que a Coreia do Norte tenha recebido ajuda técnica da Rússia para o novo e bem-sucedido lançamento, mas, segundo Chang, o país não teve tempo suficiente para construir um outro satélite, mais moderno, desde o último lançamento fracassado, em agosto. Se a Rússia ajudar o país a adquirir sensores, computadores e outros equipamentos, o país terá condições de melhorar os satélites que planeja lançar no futuro, acrescentou o analista.
Uma capacidade de satélite militar totalmente funcional daria à Coreia do Norte informações em tempo real sobre as atividades militares dos EUA e da Coreia do Sul na península, de acordo com Victor Cha e Ellen Kim, especialistas em Coreia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington. "Isso também poderia permitir que a Coreia do Norte progredisse no campo de uma dissuasão nuclear", escreveram.
"Ao mesmo tempo, isso também poderia mostrar à Coreia do Norte que sua alegação declarada de um ataque iminente dos Estados Unidos e da Coreia do Sul não é uma realidade, e isso pode ajudar a estabilizar a península."