Opinião

Corinthians, copa e chantagens

É mais do que lamentável a postura do Sport Club Corinthians Paulista, na pessoa de seu presidente Andrés Sanchez, ao condicionar a construção do estádio do clube à aprovação pela Câmara Municipal de São Paulo de um pacote de isenções fiscais que irão beneficiar diretamente os investidores privados que aceitaram bancar a faraônica obra. Assim, torna-se pública uma grande chantagem que não deveria caber mais neste país. Se não houver a contrapartida do poder público, o estado de São Paulo corre o sério risco de perder não só a abertura da Copa do Mundo de 2014 como de não sediar uma partida sequer.


Por mais que o Corinthians reúna a maior torcida do Estado e a segunda maior do Brasil, não se justifica – em hipótese alguma – conceder benefícios para isentar de impostos uma obra (e da possível arrecadação) que pertence ao clube e a seus investidores. Muito já se falou que o estádio do Morumbi, pertencente ao São Paulo Futebol Clube, só foi erguido graças a boa vontade dos governos militares na época da ditadura militar. Um erro. Mas jamais pode-se utilizar esse caso para justificar novas aberrações. Se nos anos 60 e 70, a sociedade não era ouvida, hoje não é assim.


O cidadão, seja ele palmeirense, santista, sampaulino ou mesmo corinthiano, jamais pode ser obrigado a ver a arrecadação de seu município seja sacrificada para beneficiar qualquer particular que seja. Se o preço a ser pago for a perda da Copa, que seja.  Conforme declarou o craque do futebol, o hoje deputado federal pelo Rio de Janeiro Romário: “Os evangélicos acreditam que Jesus vai voltar. Só ele para fazer com que o Brasil faça a melhor Copa. Se ele descer nos próximos três anos, aí será possível”. Por mais exagero que tenha essa afirmação, que foi alvo de muitas críticas, ela reflete os muitos problemas que o brasileiro irá assistir para receber a maior competição de futebol do Planeta.


Definitivamente, o país não está preparado. E não existe uma cultura para que se conquiste a infra-estrutura necessária em tempo hábil, sem penalizar o cidadão. Some-se isso a esdrúxula Medida Provisória que determina o sigilo nos gastos com obras públicas para a Copa do Mundo. Ou seja, tudo se desenha de uma forma a despejar nas costas da sociedade todo o ônus pelos devaneios de governantes irresponsáveis. Que a Câmara Municipal de São Paulo não ceda a chantagem e o Corinthians consiga restabelecer a grandeza de sua história, construindo o estádio com suas próprias pernas.

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