No dia 4 de julho, os americanos celebram a Independência dos Estados Unidos. Já para os corintianos, a data significa uma espécie de libertação, pois foi naquele dia em que o Corinthians deu fim à agonia de seu torcedor, colocou um ponto final nas galhofas dos rivais e, enfim, chegou ao topo da América. A conquista da Libertadores sobre o Boca Juniors completa dez anos nesta segunda-feira como marco na história do clube paulista.
O corintiano não se esquece da noite de 4 de julho de 2012. Perto do 102º aniversário do clube, a galeria de troféus do Parque São Jorge finalmente ficou completa. O time ergueu o seu primeiro – e até hoje único – troféu da Libertadores, com uma campanha irretocável. Cinco meses depois, o Corinthians alcançou o topo do mundo ao ganhar do Chelsea em Yokohama, no Japão.
O time alvinegro se tornou há uma década o último dos paulistas a conquistar o título mais importante do continente. Naquela época, Santos e São Paulo tinham três taças da Libertadores e o Palmeiras, uma. Hoje, o time alviverde é tricampeão.
“Representou muito, foi uma festa inesquecível para toda uma geração”, resume o jornalista e historiador Celso Unzelte, autor de uma série de livros sobre o Corinthians. “Mas dizer que um título é o mais importante da história do Corinthians só porque calou a boca dos rivais é sempre uma visão meio míope”, pondera.
O Corinthians tornou-se campeão continental com uma contundente vitória por 2 a 0 sobre o até então temido Boca Juniors no Pacaembu. A equipe mostrou maturidade, força e futebol de campeão. Tudo isso sobre os olhares atentos de quase 40 mil “fiéis”. “Ganhar a Libertadores foi apenas um dos muitos desafios que foram e continuarão sendo propostos ao Corinthians ao longo de sua história. E o clube superou todos”, diz Unzelte.
As primeiras lágrimas começaram a cair antes mesmo de o jogo começar, com a bonita festa que a torcida fez para receber o time na subida ao gramado. Foi um dia diferente em São Paulo desde as primeiras horas do dia como há tempos não se via. Por todos os cantos, o preto e branco reinava seguido do grito de “Vai, Corinthians”.
Torcedores passaram o dia nos arredores do Pacaembu se preparando para o título. A festa começou bem antes com confraternização com churrasco e cerveja nas praças vizinhas ao histórico estádio paulistano.
Durante a partida, a capital paulista ficou em silêncio. Muitos, incluindo torcedores rivais, acompanhavam atentamente o desenlace do jogo que mudaria a história corintiana e que transformou em ídolo o atacante Emerson Sheik, autor dos dois gols na decisão.
Emerson abriu o marcador aos 9 minutos do segundo tempo, aproveitando passe de calcanhar do meia Danilo, depois que a defesa do Boca não conseguiu afastar a bola numa falta cruzada para dentro da área. O atacante, então com 33 anos, aumentou a vantagem e deu início à celebração da torcida corintiana aos 28 minutos, arrancando com a bola desde o meio-campo após um passe errado do zagueiro Schiavi.
“Gosto dessas partidas, tenho certeza que todo mundo que acompanhou a minha história sabe o quanto é importante isso”, disse o veterano, na ocasião. “O grupo mereceu, trabalhou dentro de campo, ninguém fez mais que o Corinthians. Não foi acaso, não foi sorte, foi merecimento e competência desse grupo”, afirmou o técnico Tite a repórteres após a conquista, ainda no gramado.
TRAJETÓRIA
O Corinthians ganhou a Libertadores de forma invicta. Em 14 jogos, foram oito vitórias e seis empates. A defesa, com apenas quatro gols sofridos, foi a menos vazada da competição. O jogo mais especial para quase todo corintiano, com exceção da final, foi contra o Vasco.
Aquele confronto misturou drama, tensão, emoção e uma cena que entrou para a história do futebol sul-americano: a defesa milagrosa de Cássio em chute de Diego Souza quando o duelo estava empatado sem gols. Minutos depois, no fim da partida, Paulinho marcou de cabeça para selar o triunfo.
Na semifinal, o adversário foi o Santos, de Neymar, e a classificação para a decisão foi obtida após vitória na Vila Belmiro (gol de Sheik) e um empate no Pacaembu.