Prometendo ser uma das edições mais equilibradas da história, o Brasileirão deste ano começa neste final de semana e os clubes da Série A já se movimentam na comercialização de ingressos para contar com a força da torcida nas arquibancadas. As entradas estão mais caras em relação ao ano passado, em parte por causa da nova determinação da CBF sobre imposto na venda dos bilhetes, reduzindo a arrecadação dos clubes. O tíquete médio mais caro é o do Corinthians, enquanto o Palmeiras lidera o ranking de sócios-torcedores, uma das principais ferramentas para alavancar a presença nas arenas.
Segundo levantamento do <b>Estadão</b>, entre janeiro e abril – período que os clubes brasileiros da Série A disputaram os seus respectivos Campeonatos Estaduais – o custo do ingresso médio no Brasil é de R$ 36,18. Torcedores corintianos precisam despender, em média, R$ 59,28. Palmeiras, Grêmio e Vasco, que volta à primeira divisão, completam o ranking das entradas mais caras.
Os preços variam entre cada setor – e devem sofrer um aumento a partir do início do Brasileirão. Ao <b>Estadão</b>, Goiás, Cuiabá, Coritiba e América-MG afirmaram que ainda não definiram o valor das entradas para a competição nacional. Outros clubes, como Red Bull Bragantino, São Paulo, Santos e Fortaleza adotam uma política de preços variáveis. De acordo com o adversário e a fase do time na competição, o valor dos ingressos pode ser um acréscimo ou desconto.
Novamente, o Corinthians se destaca em um fator pouco convidativo ao seu torcedor. Sem considerar descontos de meia-entrada ou de associados do clube, o setor oeste inferior central tem ingressos avaliados em R$ 440. Em comparação, camarotes do rival São Paulo, no Morumbi, custaram R$ 400 no último jogo, contra o Ituano, pela Copa do Brasil.
Em 14 de fevereiro, a CBF aprovou o novo Regimento Geral de Competições (RGC) e impôs aos clubes um custo extra que não estava previsto no orçamento inicial para 2023, na realização de partidas organizadas pela entidade, como o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. Com a nova regra, qualquer desconto nos ingressos que ultrapasse 50% do valor será desconsiderado pela entidade para fins de relatório financeiro e cobranças de taxas.
Isso ocorre porque, pelo novo regulamento, a diferença do valor a ser pago terá de constar no borderô dos jogos, aumentando a renda bruta e, consequentemente, a taxa de 5% para a federação local e mais 5% ao INSS, ambas incidindo sobre a arrecadação da bilheteria. Na prática, clubes que oferecem descontos acima de 50% nos ingressos terão de arcar com as taxas dos impostos.
Os clubes pedem a revisão da medida porque, na prática, estão deixando de arrecadar. Agremiações que oferecem descontos elevados em seus planos de sócio-torcedor, como Palmeiras, Flamengo, Botafogo, Internacional, Grêmio e Bahia, são as mais afetadas. Recentemente, o Vasco apresentou uma renda bruta de aproximadamente R$ 1 milhão no jogo da Copa do Brasil com o ABC, mas terminou com um prejuízo de quase R$ 290 mil – valor somatório da renda real obtida, menos os custos operacionais e valor pago ao time potiguar.
O aumento nos custos operacionais de uma partida também é sentido no bolso do torcedor. Visando manter o estádio com grande ocupação, alguns clubes oferecem em determinados planos de sócio a opção de o torcedor fazer "check-in" – reserva do ingresso e entrada sem pagar o ingresso. Em contrapartida, os altos valores dos bilhetes têm sido criticados pelos torcedores, especialmente quem não adere a nenhum programa de sócio e paga o preço integral ofertado. Vale ressaltar que nem todas as pessoas que fazem o "check-in" online decidem comparecer à partida.
No duelo do Vasco com o ABC, a diretoria cruzmaltina elevou consideravelmente o preço dos ingressos. O valor mais barato, na arquibancada comum, custou R$ 150, e R$ 250 o mais caro. Cerca de 15 dias antes, no Campeonato Carioca, os ingressos variaram entre R$ 70 e R$ 150. O resultado foi a ausência das torcidas organizadas, que não foram à partida em forma de protesto. O time acabou sendo eliminado, nos pênaltis, em São Januário.
Cena parecida deve ocorrer neste sábado no duelo entre Botafogo e São Paulo. Torcidas organizadas do time carioca comunicaram que não vão comparecer ao jogo e vão promover um protesto do lado de fora do estádio Engenhão contra os altos preços cobrados na partida da primeira rodada do Brasileirão. O setor popular, atrás do gol, custa R$ 60, enquanto os demais lugares custam R$ 200.
Em nota, o Botafogo incentivou os torcedores a aderirem ao plano de sócio para contar com os descontos e afirmou que os valores "consideraram os custos operacionais do Nilton Santos (Engenhão) e é fruto de um estudo de benchmarking com os principais clubes do futebol brasileiro, sendo os preços praticados em linha com as grandes arenas do País".
Em São Paulo, palmeirenses alegam dificuldades até mesmo para tentar adquirir as entradas, uma vez que os associados têm prioridade na compra e, por vezes, esgotam rapidamente as entradas. O clube alega que os ingressos que não são vendidos por meio do seu programa de fidelidade vão para a venda geral, uma vez que não podem ser vendidos com desconto do programa de sócio.
SÓCIO-TORCEDOR
O Palmeiras lidera o ranking de sócios-torcedores entre os clubes da Série A. Em levantamento do <b>Estadão</b>, o alviverde conta com quase 180 mil torcedores em seu quadro de associados, que têm prioridade na compra de ingressos, além de descontos. Essa é a prática mais comum nesses planos e repetida pela maioria dos clubes.
Atual campeão cearense, o Fortaleza é um dos clubes que mais se destaca com seu programa de associados. No ranking da Série A, é o sétimo com mais sócios (cerca de 40,5 mil) e planeja chegar à meta de 50 mil no futuro. Gigliani Maia, gestor do programa, revela que 15% da renda do clube é proveniente do sócio-torcedor
Procurados, Corinthians e Red Bull Bragantino optaram por não divulgar o número de associados em seus programas. Recentemente, o Corinthians anunciou uma reestruturação em seu sócio-torcedor, que deve ser lançada ainda em 2023, integrado ao Universo SCCP, aplicativo oficial do clube.
Athletico-PR, Flamengo, Vasco, Goiás e América-MG foram procurados pela reportagem, mas não responderam. O Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) também foi procurado para responder sobre o respaldo aos consumidores na cobrança de preços abusivos, mas não respondeu. Caso haja resposta, a matéria será atualizada.
MÉDIA DE PÚBLICO
Em 2022, os times levaram, em média, 25 mil torcedores ao estádio. O Flamengo liderou a média de público no Brasileirão com sobras. Em média, 54 mil torcedores lotaram o Maracanã em cada um dos 19 jogos do time rubro-negro no Rio de Janeiro. Não à toa, a equipe conseguiu se reerguer da parte de baixo da tabela até o vice-campeonato após a chegada do técnico Dorival Júnior. A tendência, apesar do alto custo dos ingressos (R$ 49,61, em média) e da má fase da equipe sem um técnico, é de que o estádio siga lotado na edição deste ano.
Campeão, o Palmeiras foi a terceira equipe que mais levou torcedores ao estádio no último Brasileirão – ficou atrás do rival Corinthians, impulsionado pelo sucesso paralelo na Copa do Brasil. Estádios lotados e o programa de sócios com o maior número de adimplentes do País ajudam a explicar o sucesso da equipe. Bragantino e América-MG são os lanternas do Brasileirão quanto ao público, com 4,7 mil e 3,8 mil de média, respectivamente.
De volta à elite do futebol brasileiro depois de três temporadas, o Cruzeiro teve média de 41 mil torcedores na Série B do ano passado, quando faturou o título nadando de braçada. Combinados os times da primeira e da segunda divisão em 2022, o time mineiro, cuja SAF é comandada por Ronaldo Fenômeno, teve a segunda maior média, atrás apenas do Flamengo.