O Coro da Rádio de Berlim encerra, nesta segunda e terça-feira na Sala São Paulo, a temporada do Mozarteum Brasileiro. O grupo é um dos mais tradicionais do cenário musical germânico – e é justamente a obra de compositores como Brahms, Mozart e Mahler que compõe as apresentações. “Há uma grande linhagem que com certeza nos define em termos de sonoridade e foi um pouco dela que quisemos mostrar”, diz o maestro Gijs Leenaars.
Nesta segunda, com acompanhamento da Orquestra Arte del Mondo, o coro interpreta o Réquiem Alemão, de Brahms. Na terça, o coro a cappella (sem acompanhamento) Por que a luz é concedida ao laborioso, de Brahms; uma versão para coral do Adagietto da Sinfonia nº 5 de Mahler (conhecido por seu uso no filme Morte em Veneza, de Visconti); e, para finalizar, o Réquiem de Mozart, última e incompleta obra do autor.
São programas densos, introspectivos, sobre os quais a morte paira como tema. Não apenas nos réquiens, que evocam a missa dos mortos da tradição católica, mas também em Mahler, para quem a felicidade no amor sempre carregou enorme angústia. “De certa forma, os dois programas apostam em obras que questionam nossa posição no mundo e nos fazem refletir sobre ela. Aliás, em 80% do tempo, é disso que fala a música coral, o que a aproxima das pessoas”, afirma o maestro.
Apesar da afinidade temática, cada obra recria um mundo bastante particular. “Mozart é mais clássico, não apenas pelo uso do texto em latim, mas porque representa uma crença espontânea católica na existência da vida eterna. Seu Réquiem olha para o depois da morte e celebra essa transformação.” Já Brahms está tratando de outras questões. “O seu réquiem foi escrito para quem ainda vive, o que ele pretende é dar conforto a quem está aqui. Isso é algo importante pessoalmente para ele, por conta da perda de Robert Schumann e, mais tarde, de sua mãe.”
Nessa mesma linha, seguiu o Réquiem de Verdi, de oito anos depois, 1874. Toda a obra é permeada por uma tentativa de acerto de contas entre um homem, no caso o compositor, e a figura divina. “Se Mozart está em um extremo, Verdi está no outro. Ele era um agnóstico, tinha profundos questionamentos sobre o valor da fé. Brahms, de algum jeito, está no meio, entre eles. Não há raiva, ódio, há o que ele definiu como a esperança de que as pessoas entendessem o seu réquiem como humano.”
O Coro da Rádio de Berlim foi criado em 1925. Atua ao lado de importantes conjuntos, como a Orquestra Filarmônica de Berlim, além de manter uma temporada própria, de cerca de 60 concertos. “É um equilíbrio que tentamos buscar sempre. É incrível atuar ao lado de grandes conjuntos sinfônicos, mas um coro, para conquistar a sua sonoridade, a sua personalidade, precisa pensar na qualidade intrínseca do canto a cappella”, diz Leenaars, que assumiu o grupo em 2015. “Quando cheguei da Holanda, me surpreendi como em Berlim os programas eram muito conservadores em média. Isso é uma pena e a música coral pode ajudar a mudar isso. O canto é algo que todo mundo entende e, por isso, podemos ser uma porta para novas criações, uma nova música.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
CORO DA RÁDIO DE BERLIM & LARTE DEL MONDO
Sala São Paulo. Praça Júlio Prestes, 16, tel. (011) 3367-9500. 2ª e 3ª, 21h. R$ 160/ R$ 250.