A corrupção no futebol não é um problema isolado, mas envolve “todo o sistema”. O alerta é de Hans Joaquim Eckert, juiz alemão que analisa os casos de corrupção da Fifa. Ele aponta que os interesses econômicos superam qualquer valor ético no esporte. Para ele, regras precisam ser repensadas para resguardar a “moral” do futebol. O recado foi dado em um evento na sede da Fifa na manhã desta sexta-feira sobre ética. Antes de subir ao pódio, ele alertou: “as pessoas não vão gostar do que vou dizer”.
Eckert é quem tomará uma decisão sobre a suspeita de corrupção na compra de votos para escolher as sedes das Copas do Mundo de 2018 e de 2022. Para ele, a corrupção no esporte “não é de um ator sozinho, mas de um sistema como um todo”. “A corrupção precisa ser combatida, mesmo em pequena escala”, insistiu. “Os presentes estão cada vez maiores. Precisamos respeitar a moral e ética”, declarou.
Na quinta-feira, a Fifa revelou que a CBF deu presentes a cartolas durante a Copa de 2014 no valor de mais de R$ 4 milhões.
Para o alemão, o centro do problema atual no futebol é o fato de que o dinheiro conta mais que qualquer outro aspecto. “A ética está subordinada ao mercado”, alertou. “Quando alguém vence algo, ele vê seu valor no mercado aumentar”, indicou.
Eckart também criticou a atitude da Fifa de publicar rankings de jogadores durante a Copa de 2014, ao final de cada partida. “Isso tinha um impacto nos valores dos jogadores”, alertou. Ele também apontou como clubes tem se transformado em “empresas que precisam de lucros” e, diante dessa realidade, o alemão se questiona: “É possível ainda reconciliar ética e esporte?”.
Joseph Blatter, presidente da Fifa, também admitiu que o futebol se transformou em “um grande negócio”. “É fácil controlar o futebol em campo. Existem leis e um juiz. Mas, fora, não temos juízes, não temos tempo e nem fronteiras”, declarou Blatter.