Dois anos e meio depois das prisões dos cartolas do futebol, o tribunal norte-americano do Brooklyn, em Nova York, anunciou nesta quarta-feira a primeira sentença contra os dirigentes do esporte. O ex-presidente da Federação de Futebol da Guatemala, Hector Trujillo, foi condenado a oito meses de prisão e uma multa de US$ 415 mil.
Réu confesso, ele admitiu ter recebido US$ 200 mil em propinas em troca de contratos comerciais com sua seleção. Os procuradores norte-americanos pediam que ele fosse condenado com mais de três anos de prisão e uma multa de US$ 415 mil.
Sua defesa insistia que não caberia uma prisão, já que ele não teria violado as regras de seu país. Mas chegou a um acordo também de que qualquer pena menor a quatro anos e nove meses de prisão não seriam alvos de um recurso. Pela decisão do tribunal, Trujillo terá de devolver o dinheiro à federação que ele comandou.
Ele foi preso ainda em dezembro de 2015, enquanto passeava pela Disney com a sua família. Para aguardar o processo em liberdade, pagou uma fiança de US$ 4 milhões.
Ainda que considerada como marginal dentro do esquema de corrupção revelado na Fifa, a condenação de Trujillo foi acompanhada de perto por advogados de todos os demais suspeitos, entre eles José Maria Marin. O brasileiro começará a ser julgado no dia 6 de novembro.
A CBF também está de olho nos acontecimentos em Nova York. O jornal O Estado de S.Paulo apurou que a entidade brasileira vai acompanhar de perto para saber qual será o destino do atual presidente, Marco Polo del Nero. Ele foi indiciado pelos norte-americanos. Mas, sem deixar o Brasil, evitou ser preso. Além disso, manteve o comando do futebol nacional.
O que inquieta a CBF, porém, é a presença dos procuradores norte-americanos, que, para convencer os juízes a punir Marin, podem apresentar novos documentos e evidências que também implicariam Del Nero. Os dois cartolas dividiram o poder na entidade brasileira desde a saída de Ricardo Teixeira, em 2012.
Além do guatemalteco, o ex-chefe do futebol de Honduras, Rafael Callejas, será sentenciado no dia 15 de dezembro. No dia 21 de dezembro, será o ex-executivo brasileiro José Margulies que terá a sua sentença anunciada. Ele já se declarou culpado em um esquema de pagamento de propinas envolvendo a empresa Traffic.
Alguns dos dirigentes mais influentes da Fifa, porém, terão as suas sentenças anunciadas apenas em 2018. Depois de vários adiamentos, a corte promete tomar uma decisão sobre o ex-presidente da Concacaf, Jeffrey Webb, no dia 24 de janeiro. Ele admitiu culpa e, para pagar a sua fiança, chegou a entregar os anéis de diamante de sua esposa.
Alfredo Hawit, que substituiu Webb depois de sua prisão no comando da Concacaf, também acabou detido. Sua sentença será conhecida apenas em março de 2018.
Os processos também serão acompanhados de perto pela Fifa. A entidade insiste que esses cartolas a fraudaram e quer recompensas. Mas advogados ainda alertam que os julgamentos e revelações ainda poderão respingar de volta à entidade que diz ter “virado a página” e “resolvido” os problemas de corrupção.
No mês passado, porém, membros de órgãos de controle da Fifa pediram demissão denunciando manobras da cúpula do futebol para impedir qualquer tipo de investigação independente.