“Não sou Nero, não estou demolindo de forma grotesca algo que demorei 20 anos para construir.” Essa foi a reação do editor Charles Cosac à repercussão negativa da entrevista do diretor financeiro da editora Cosac Naify, Dione Oliveira, sobre o destino dos 400 mil livros que estão armazenados num depósito de Barueri, acumulados durante duas décadas de produção editorial e ameaçados de virar aparas no fim de dezembro.
Pagando o aluguel de R$ 55 mil mensais para guardar esse estoque numa empresa especializada, o editor revelou na quinta, 22, em entrevista exclusiva ao jornal “O Estado de S. Paulo”, que ainda está em conversações com fundações e instituições para evitar que esses livros sejam picotados e virem aparas – prática, aliás, comum entre as editoras quando um título encalha nas livrarias. E a Cosac Naify, a despeito da excelência editorial e do cuidado gráfico, lançou, entre os 1.600 títulos publicados desde sua fundação, muitos livros que não venderam um décimo da edição.
“Doei livros para bibliotecas, escolas e autores nesses 20 anos e, mesmo no fechamento da editora há um ano, destinei a instituições como a Biblioteca Mário de Andrade dois exemplares de cada título que publiquei”, lembrou Cosac, que, ao decidir encerrar as atividades, doou também 900 títulos seus para a editora do Sesi. A editora acaba de lançar Olhar à Margem: Caminhos da Arte Brasileira, reunião de textos que abarca a produção de 15 anos do crítico Luiz Camilo Osório.
Charles Cosac revela que continuará a exercer sua profissão de editor, ajudando editoras como o Sesi e a Cobogó, duas novas parceiras, na produção de novos títulos, como o de Camilo Osório. Com a Cobogó ele finalizou o livro do fotógrafo Mauro Restiffe, que em breve chega ao mercado. Toda a produção do livro ficou a seu cargo. Ele bancou tudo.
Sobre o acordo com outras editoras – entre elas a Companhia das Letras -, Cosac diz que elas tampouco podem absorver títulos que fracassaram no mercado. “Alguns, que conseguiram bons resultados nas vendas, estão sendo reimpressos, mas ninguém quer os que não tiveram êxito.” Mesmo escritores consagrados, como o argentino Alan Pauls, não despertaram interesse das editoras que adquiriram parte do acervo da Cosac Naify. Ele foi na esteira de outro chileno, Alejandro Zambra, de maior apelo comercial. “Há também títulos que outras editoras já têm e eu tenho obrigação moral de tirá-los do mercado.” Entre eles está a luxuosa edição de Guerra e Paz.
Os livros que estão armazenados, segundo o editor, têm valor negativo diante da despesa mensal para a manutenção e conservação do estoque na locadora, o que o diretor financeiro Dione Oliveira tentou explicar em sua entrevista.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.