A Secretaria de Saúde do Amazonas fez um pedido ao Ministério de Saúde de envio de cloroquina para o Estado no dia 5 de janeiro, período que antecedeu o colapso no sistema de saúde de Manaus com a falta de oxigênio para atendimento de pacientes do novo coronavírus. O medicamento não tem eficácia comprovada cientificamente contra covid-19, mas o uso foi incentivado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.
Em depoimento na CPI da Covid, nesta terça-feira, 15, o ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo afirmou que a secretária Mayra Pinheiro, do Ministério da Saúde, esteve em Manaus no dia 4 de janeiro e houve forte ênfase ao chamado tratamento precoce. Em documento enviado à CPI, a secretaria estadual apresentou uma relação de solicitações feitas ao ministério durante a pandemia. O pedido de cloroquina foi feito no dia 5 de janeiro, um dia após a reunião com a secretária, conforme a lista.
Durante o depoimento, Campêlo declarou que a hidroxicloroquina era usada para tratamento de outras doenças, como lúpus, e que o estoque estava zerado. Depois, confrontado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) com o documento, o secretário admitiu o pedido do medicamento para um programa de atendimento a pacientes de covid-19, citando orientação da secretária Mayra Pinheiro. A data de 5 de janeiro coincide com um dos picos de casos do novo coronavírus na região, observou a senadora.
Oxigênio. Ao falar na CPI, o ex-secretário alegou que, durante o ano de 2020, o consumo de oxigênio não apresentava risco de fornecimento. A CPI, porém, recebeu dois documentos da empresa White Martins alertando a secretaria do Amazonas, em julho e setembro do ano passado, sobre o aumento da demanda por oxigênio. Campêlo apontou uma estrutura precária na atenção primária em Manaus e a explosão de casos pela nova variante da covid-19 como contextos para a crise no Estado.
Em nota, a empresa reforçou os alertas enviados à gestão estadual. "Cabe ressaltar que a White Martins não recebeu da Secretaria Estadual de Saúde informação prévia a respeito de aumento da demanda de oxigênio para as instituições do Estado. Como uma mera fornecedora, a empresa reforça que não tem dever ou qualificação técnica para fazer a gestão da saúde pública."
Apenas um caderno
Sobre a Operação Sangria, pela qual foi preso provisoriamente, Campêlo disse que a PF apreendeu "apenas um caderno de anotações" em sua casa no início de junho. Ao ser questionado sobre a investigação, Campêlo negou as acusações.
Ele insistiu que pediu demissão do cargo após a operação, e que a saída não foi um pedido do governador, Wilson Lima. "Eu pedi para deixar o cargo, depois do cumprimento do mandado de prisão, porque eu acredito que, por questões éticas, você tem que deixar um cargo para permitir que as investigações procedam e não seja acusado de estar tentando interferir nas investigações."