A base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara dos Deputados resistiu e adiou o convite ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), principal ativo da oposição composta pelos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A negociação avançou mediante acordo com o líder do governo na CPI, Alencar Santana (PT-SP), que retirou a obstrução da pauta para deixar o chamamento apenas após o recesso parlamentar. O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional general Marco Edson Gonçalves Dias não escapou e foi convocado.
O presidente da Suzano, Walter Schalka, também teve o requerimento derrubado. A Suzano, empresa produtora de papel e celulose, por sua vez, foi um dos alvos do chamado "abril vermelho", mês em que integrantes do MST intensificaram invasões a terras pelo Brasil.
No Espírito Santo, os sem terra ocuparam duas fazendas da empresa e permaneceram lá por dez dias, após liminar dada pela Justiça para que eles saíssem.
Na proposta inicial, Rui, G. Dias e Schalka seriam convocados – o que os obrigariam a participar – mas após mais de 50 minutos de diálogo o consenso se estabeleceu, ainda que sob críticas de bolsonaristas mais ferrenhos.
O deputado Delegado Éder Mauro (PL-PA) criticou a falta de combatividade da oposição já que, para ele, o governo controla a CPMI. "Aqui a gente começou a virar cordeirinho", afirmou.
Segundo o relator, Ricardo Salles (PL-SP), a convocação de Rui e de G. Dias são justificadas pelo entendimento de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitora a atividade de grupos sem terra. Durante o governo Lula, o órgão esteve subordinado tanto ao GSI, quando ainda sob comando de G. Dias, e da Casa Civil.
Como mostrou a <i>Coluna</i>, na última sessão, que aconteceu há três semanas, a recusa da deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) em seguir um acordo estabelecido anteriormente levou a decisão do presidente, Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), de resgatar as convocações da pauta.
Rui é alvo de críticas tanto do centrão como dos próprios governistas pela desarticulação entre o Executivo e o Legislativo, por não prestigiar ou atender deputados.
O ápice da crise chegou na véspera da votação da medida provisória dos ministérios, que quase foi derrubada tamanha a insatisfação de líderes partidários com a falta de distribuição de cargos. Como mostrou o <b>Estadão</b>, o ministro deu preferência a atender políticos baianos, onde governou por oito anos, em sua agenda.
A sessão da CPI retomará na quarta-feira, 19, quando serão apreciados mais de 20 requerimentos.
<b>Sessão volta a ter brigas</b>
Como de costumeiro, o hiato de duas semanas sem sessão não foi suficiente para acalmar os ânimos. Sâmia Bomfim trocou acusações com o relator da comissão, Ricardo Salles, ao longo desta terça-feira. A parlamentar queixou-se de ser interrompida por Salles enquanto falava.
O encontro então virou uma série de trocas de insultos, provocações e interrupções. "Estava tudo indo bem", queixou-se o presidente da CPI, Tenente Coronel Zucco (Republicanos-SP), quando a primeira confusão aconteceu.
As discussões voltaram a se repetir entre diferentes parlamentares lulistas e bolsonaristas.