“Queria pedir desculpas pela forma como tudo isso está sendo tratado”. A frase, da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), resumiu o sentimento de parte dos parlamentares que acompanharam nesta quinta-feira, 23, os depoimentos de curadores da exposição Queermuseu, Gaudêncio Fidélis, e 35º Panorama da Arte Brasileira, Luiz Camillo Osorio, à CPI dos Maus-Tratos no Senado.
As duas mostras foram alvo de críticas em redes sociais por conteúdos considerados inapropriados para crianças e adolescentes. No caso da Queermuseu, a exposição financiada pelo banco Santander foi cancelada em setembro após acusações de promover pedofilia e zoofilia.
Fidélis chegou a ser alvo de um pedido de condução coercitiva – quando a pessoa é obrigada a comparecer – cancelado na véspera. “Entendo minha vinda à CPI como uma convocatória. Num primeiro momento eu declinei pelo fato de eu discordar do objeto da CPI. É difamatório. Estou aqui cumprindo a lei”, disse ele.
Um grupo de artistas e representantes da cena cultural de Brasília acompanhou a reunião no Senado e exibiu cartazes com dizeres como “visitem museus” e “a arte é libertadora”. Ameaçados de serem expulsos da sala caso fizessem protestos ruidosos, ficaram em silêncio a maior parte do tempo.
Houve ainda momentos de constrangimentos envolvendo o relator da CPI, senador José Medeiros (Podemos-MS), e o presidente da comissão, Magno Malta (PR-ES). Em um deles, Medeiros questionou Fidélis sobre uma obra que não estava na exposição. Depois, quis saber se crianças que visitavam a mostra eram incentivadas a “se tocar sexualmente” com base na obra O eu e o tu, de Lygia Clark. Após ouvir a negativa de Fidélis, se disse aliviado. “O senhor me tira uma laje da cabeça ao dizer que não tinha criança se tocando sexualmente na exposição”, disse Medeiros.
Em diversas ocasiões, Malta afirmou que sua intenção não era censurar a arte, mas sim preservar crianças e adolescentes de possíveis “maus tratos psicológicos”. “O debate que se deu em cima de arte não é o nosso foco. Nosso debate é maus tratos contra crianças. Tudo poderia ter sido esclarecido se eles tivessem aceitado o nosso convite lá atrás”, disse ele.
A intenção da CPI era ouvir também o coreógrafo Wagner Schwartz, que protagonizou uma performance nu na exposição 35º Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo. Schwartz, porém, está na França e não compareceu. Ele também foi alvo de um pedido de condução coercitiva da CPI, derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes.
A polêmica em torno da performance, batizada de La Bête e inspirada em outra obra de Lygia Clark, ocorreu após uma criança ser filmada interagindo com Schwartz.