A médica infectologista Luana Araújo iniciou sua fala à CPI da Covid afirmando ser "intolerável" o cenário de mais de 460 mil mortes provocadas pela pandemia do novo coronavírus no Brasil. Convidada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para ocupar o cargo de Secretária Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde, Luana deixou a equipe de Queiroga dez dias depois, antes mesmo de sua nomeação se confirmar.
Em declaração inicial aos senadores, ela relatou ter afirmado a Queiroga que só aceitaria o convite se lhe fossem garantidas a autonomia necessária e respeitadas a cientificidade e tecnicidade. "Pleiteei autonomia, não insubordinação ou anarquia. Precisaria ter autonomia necessária para agir, no que fui prontamente respondida pelo ministro de forma afirmativa e concreta", afirmou ela.
Em fala enfática sobre a necessidade de combater a pandemia com medidas técnicas e científicas, Luana afirmou ser "imperativo" que se deixe de lado o que "não presta mais". "Pelos nossos erros perdemos a confiança do povo", disse a médica. "Ciência não tem lado, é bem ou mal feita. É ferramenta de produção de conhecimento pra servir a população. Essa distância ou oposição entre populações e ciência não existe. Ciência deve ser protegida. Vivência de crise sanitária complexa e gigantesca exige resposta multifatorial", disse a médica.
Ela disse ainda que, quando convidada por Queiroga para falar sobre o posto na Saúde, o ministro lhe apresentou um projeto sólido, baseado em evidências, "de superação desses obstáculos no contexto brasileiro". "Uma necessidade de alguém técnico e competente, uma secretaria técnica, um desejo antigo seu (de Queiroga). Sua apresentação foi consonante aos meus valores", disse.
"320 dias, mais de 320 dias. Esse seria o tempo que teríamos que ficar quietos para respeitar um minuto de silêncio para cada uma das mais de 460 mil mortes pelo covid-19", começou dizendo aos senadores. "Isso é intolerável, e toda pessoa deve fazer o que estiver a seu alcance para impedir essa hecatombe", declarou.
<b>Nise Yamaguchi</b>
O começo dos trabalhos da CPI da Covid, nesta manhã, foi dedicado à avaliação de senadores sobre a oitiva da médica Nise Yamaguchi, que prestou depoimento ontem ao colegiado. Enquanto membros governistas do colegiado reclamaram do tratamento dado a médica, senadores responsáveis pelos questionamentos mais duros à especialista defenderam que Nise não poderia "mentir deliberadamente" sem ser confrontada.
Governistas, como Marcos Rogério (DEM-RO) e Ciro Nogueira (PP-PI), reclamaram das interrupções ao depoimento da médica. Entre os principais pontos de reclamação dos governistas, estava a série de perguntas do senador e médico Otto Alencar (PSD-BA), que confrontou a médica com uma série de questões técnicas Nise não soube responder.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que também figurou entre os que fizeram questionamentos mais duros à médica, defendeu que qualquer cidadão que comparece ao parlamento para "deliberadamente enganar, mentir, omitir" será confrontado com dados. "Um eventual momento de um exagero de retórica não vai deixar, não vai eclipsar, não vai ocultar o fato", disse o parlamentar, afirmando que Nise compareceu ao senado para "desinformar".
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) concordou com Vieira. Para o cearense é "surpreendente" que defensores do presidente Jair Bolsonaro fiquem "surpresos com as intervenções técnicas" feitas a Nise nesta terça-feira, enquanto o presidente continua a continuar a usar "grosserias" e "palavras de baixo calão" para atacar seus adversários.