Para tentar conter o tráfico de drogas na região central de São Paulo, a Polícia Civil deflagrou mais uma operação na região da Cracolândia em conjunto com a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana na tarde desta terça-feira, 14. O objetivo é prender os traficantes de drogas que atuam na região.
Na segunda-feira, 13, a polícia prendeu Dayane de Paula Pinto, conhecida como Moranguinho. Segundo a polícia, ela é uma das traficantes da Cracolândia que atuava nas ruas Helvétia e Gusmões, na região central.
Esta é a quarta ação policial no local em um mês, desde que começou a dispersão os usuários de drogas e traficantes que ficavam na Praça Princesa Isabel, onde a Cracolândia havia se estabelecido. Desde então, as pessoas que frequentavam o local passaram a adotar outros pontos de encontro, inclusive em outros bairros da capital paulista.
Segundo Luiz Carlos Zaparoli, chefe dos investigadores da Seccional Centro, foram seis presos por tráfico e quatro por uso irregular de tornozeleira eletrônica. Ainda existem mais 30 mandados de prisão a ser cumpridos, só que essas pessoas não foram encontradas. "O importante é que os traficantes que atuam em grande escala nós já tínhamos prendido, por isso o tráfico está menor aqui", disse.
De acordo com Claudio Mota, chefe do 77º DP, uma pessoa foi detida para dar mais explicações. "Ela ia até o local para comprar peças de roupa por R$ 20 e vendia em um site por R$ 100. Geralmente são roupas de doação, que os usuários acabam vendendo em troca de dinheiro", explicou. Ele reforçou que a operação vai continuar nos próximos dias, para identificar novos alvos.
Iniciada em abril do ano passado, a Operação Caronte passou a investigar as movimentações e as pessoas na Cracolândia, com investigadores infiltrados. A ação desta terça-feira, que teve como foco principal a Rua Helvétia, foi motivada por causa do aumento de frequentadores no local, o que chegou inclusive a atrapalhar o tráfego de veículos nos últimos dias.
<b>Internações</b>
A operação desta terça-feira ocorre no mesmo dia em que o Ministério Público de São Paulo instaurou inquérito civil para apurar "fatos e responsabilidades" ligadas à internação involuntária de 22 pessoas oriundas da região da Cracolândia para tratamento contra a dependência química no Hospital Bela Vista Santa Dulce dos Pobres. A Promotoria diz que não recebeu nenhuma comunicação de internações, apesar de ter alertado a instituição sobre a necessidade de tal comunicação desde o início de maio. A emenda da portaria de abertura do inquérito cita "ilegalidade" na não comunicação das internações involuntárias ao MP e fala em "impossibilidade de avaliar a legalidade e o tempo da internação dos pacientes".
O documento foi assinado pelo promotor de Justiça de Direitos Humanos Arthur Pinto Filho e determina que a Secretária de Saúde de São Paulo apresente, em sete dias, uma relação das pessoas internadas (voluntária ou involuntariamente) desde o dia 1.º de abril, oriundos da região da Cracolândia. O diretor do Hospital Bela Vista Santa Dulce dos Pobres também foi instado a apresentar, em 72 horas, a relação dos internos voluntários e involuntários no Hospital desde o dia 1º de abril.
Como mostrou o <b>Estadão</b>, desde o dia 27 de abril, os dependentes químicos estão sendo levados para o Hospital da Bela Vista, na região central da cidade, para um prazo máximo de internação de 90 dias. O hospital é referência no tratamento de usuários de crack.
O secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Zamarco, reconhece a falta de envio de dados, mas afirma que a situação será regularizada. "Até janeiro deste ano, o Hospital Bela Vista tinha cadastro para funcionamento como referência para covid-19. Com o arrefecimento da pandemia na cidade de São Paulo, o hospital foi devolvido para a população para ser um hospital geral. Para isso, foi necessário um recadastramento junto à Vigilância do Estado", diz o secretário. (Colaboraram Gonçalo Junior e Pepita Ortega)