O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), desistiu nesta quinta-feira, 20, de tentar transferir o fluxo de usuários de drogas da Cracolândia para o Bom Retiro, na região central. A proposta, que havia sido anunciada na terça-feira, 18, provocou reclamações de comerciantes da região e críticas de especialistas em segurança pública.
"O governo do Estado informa que após novas avaliações a estratégia de direcionar o fluxo para o Complexo Prates será revista. Novas possibilidades para solucionar o problema da Cracolândia estão sendo estudadas e serão divulgadas em breve", diz nota do governo de São Paulo.
A mudança de rota foi confirmada horas depois que o governador fez um sobrevoo na região central de São Paulo, nas proximidades às ruas Gusmões, Vitória, Santa Ifigênia e Avenida Rio Branco, no centro da capital, onde se localiza atualmente o fluxo de dependentes químicos. Ele também sobrevoou a área que receberia o fluxo.
A ideia inicial do poder estadual era tentar aproximar os usuários de drogas do Complexo Prates, equipamento municipal que atende a população em situação de rua e também dependentes químicos, no final da rua Prates, no Bom Retiro.
Na quarta-feira, 19, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou que não havia sido consultado sobre o tema e falou em um "mal-entendido" com Tarcísio de Freitas. "Não foi falado comigo. A gente tem reuniões periódicas para tratar desse tema. O que eu entendo é fazer não a remoção da Cracolândia, mas talvez um direcionamento para atendimento público para as pessoas. Creio que seja isso. Fazer a remoção daquele contingente de mil e poucas pessoas, a gente não teve uma discussão, uma conclusão com relação a este tema. Me parece que houve um mal entendido", disse o prefeito.
Antes da alteração, a medida havia sido criticada por especialistas como a antropóloga Deborah Fromm, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). "É uma continuação dos erros que governos anteriores cometeram de pensar na Cracolândia de forma isolada", afirmou à <i>Rádio Eldorado</i>. Para a estudiosa, o Estado é que deve ir até o público atendido, sem "deslocamento forçado".
Na quarta-feira, o <b>Estadão</b> mostrou como a região do Complexo Prates já sofre com imóveis vazios e a sensação de insegurança entre moradores e comerciantes. Saul Nahmias, presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) Bom Retiro, afirma que a região é conhecida pelos moradores como "zona proibida". "Todo mundo evita o final da rua Prates, principalmente à noite, em função da sensação de insegurança. Isso já é uma realidade", diz o líder comunitário.
Na semana passada, os poderes municipal e estadual já haviam feito uma primeira tentativa de remover o fluxo do centro. Relatos de líderes sociais e profissionais de saúde apontam que a Polícia Militar, a Polícia Civil e a GCM conduziram o fluxo da Rua dos Gusmões até a ponte Orestes Quércia, na Marginal do Tietê, em um caminho de cerca de três quilômetros. No final da operação, os usuários fugiram do local e retornaram ao centro.
<b>Veja a íntegra da nota do governo de São Paulo:</b>
<i>O Governo de SP tem ampliado as ações sociais e de saúde para o atendimento aos usuários de crack e outras drogas na região central da Capital, além de intensificar as ações preventivas e ostensivas na área de segurança pública.
Todas as estratégias buscam aproximar os dependentes químicos de equipamentos de tratamento, acolhendo e ofertando alternativas humanizadas para que estas pessoas sejam atendidas, assistidas e tenham uma porta de saída do vício, o que consequentemente reduzirá as cenas abertas de uso na região central.
Desde abril deste ano, quando o HUB Cuidados em Crack e Outras Drogas foi implantado, já foram realizados mais de 5 mil atendimentos na unidade. O local atua no gerenciamento, articulação e integração das ações desenvolvidas pelo Estado e pelo município por meio de diferentes políticas de proteção, que contribuem para o cuidado integral a esta população.
A gestão estadual também possui leitos de retaguarda para a internação e tratamento dos pacientes, além de vagas em comunidades terapêuticas que auxiliam no processo de recuperação e reinserção na sociedade.</i>