A oferta de crédito nos grandes bancos deve ter mais um ano de crescimento tímido, com desempenho similar ao visto em 2014 ou até mesmo inferior considerando a fraca demanda e o baixo crescimento econômico esperado para 2015. O sinal amarelo nos calotes com juros maiores e temores quanto ao aumento do desemprego sustentam a o perfil seletivo dessas instituições que não demonstram apetite por aumento de risco e devem continuar compensando com tarifas e serviços o menor ganho com empréstimos.
A exemplo de 2013, este ano os bancos cortaram as projeções esperadas para o desempenho das carteiras e se voltaram para segmentos de menor risco. O próximo exercício, segundo executivos e analistas, não deve ser diferente. O Banco Central espera alta de 12% do crédito em 2015, mesma expansão estimada para este ano.
No acumulado de 2014 até novembro, o estoque de crédito subiu 9,1% ante o mesmo período de 2013 e 11,8% em 12 meses, totalizando R$ 2,963 trilhões, segundo dados do BC divulgados nessa semana. No caso dos privados, embora os guidances (metas) sejam divulgados somente junto com os resultados do quarto trimestre, analistas esperam alta de apenas um dígito enquanto os oficiais devem continuar desacelerando a expansão de suas carteiras.
“O crédito deve crescer menos de 10% em 2015 e, principalmente, em linhas de menor risco. O foco deve ser tarifas. As margens pararam de cair e na melhor das hipóteses devem ficar estáveis em 2015”, avalia Carlos Macedo, analista do Goldman Sachs, em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
Dois dígitos
No consumo, a desaceleração da oferta de crédito é dada como certa. Os destaques positivos continuarão sendo imobiliário e consignado (com desconto em folha) que apesar de renderem margens menores e terem sido alvo de forte concorrência entre os bancos possuem garantias que dão mais conforto para essas instituições operarem. Para ambas as carteiras, ainda é esperado avanço de dois dígitos. O segmento de cartões também continua com expectativas otimistas e prioridade para os grandes bancos.
Na outra ponta, veículos e crédito para pequena e média empresa (PMEs), que têm sido alvo de baixo apetite por parte dos bancos devido à mudança de mix nos portfólios e preferência por créditos com garantias, devem continuar na berlinda. Nem mesmo estímulos como a facilitação da retomada do bem, medida que passou a vigorar em novembro último, devem ser suficientes para inverter a trajetória dessas carteiras. Em um cenário mais otimista, espera-se estabilidade.
A notícia positiva pode vir da agenda de infraestrutura ou melhor da concretização deste calendário e maior participação dos bancos privados nos financiamentos de longo prazo. Em conversa com a imprensa, nesta semana, a presidente Dilma Rousseff voltou a cobrar maior participação dessas instituições. Pesa, porém, o custo do funding, segundo um diretor de um grande banco. Isso porque se for o tradicional, considerando a atual Selic, o crédito pode ficar caro. E ainda o risco em jogo considerando o perfil bastante seletivo dos privados para emprestar.
“O governo tem uma excelente oportunidade de acelerar na infraestrutura com os bancos privados, com vistas a reduzir a contração total”, diz um executivo de alto escalão.
Há ainda preocupações quanto à cadeia de fornecedores da Petrobrás por conta da suspensão de pagamentos das empresas sub-contratadas de grandes construtoras que estão tendo de tomar dinheiro no mercado. O Itaú Unibanco, segundo Roberto Setubal, presidente da instituição, está preocupado, mas não vê nada que desperte atenção em seu balanço. Outro executivo diz que a restrição de crédito para empresas ligadas a Petrobrás já ocorreu e, portanto, o pior impacto pode ter ficado no passado.
Inadimplência
Do lado dos calotes, é esperada leve piora na qualidade dos ativos durante 2015 como já ocorreu ao longo deste ano. Na opinião de Frederic De Mariz, do UBS, a inadimplência, considerando os atrasos acima de 90 dias, deve aumentar reagindo a um maior número do desemprego. Ele não vê, contudo, um crescimento “muito preocupante”.
O único banco que segue melhorando o indicador por um período mais longo é o Itaú Unibanco. Segundo Setubal, a expectativa é que os calotes caiam mais no próximo ano, beneficiados pela mudança de mix. O Bradesco e o BB tiveram a segunda piora consecutiva no terceiro trimestre deste ano e o Santander reverteu a alta vista no segundo. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.