O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, salientou nesta quarta-feira, 27, que a alta dos juros e a retração econômica pesaram no desempenho do mercado de crédito em 2015. “O crédito em 2015 como um todo teve crescimento em ritmo menor ante anos anteriores”, comparou. A expansão do mercado no ano passado foi de 6,6% conforme informou mais cedo o BC. A previsão da instituição era de uma alta de 7%.
Essa redução do ritmo, conforme Maciel, também tem relação com a expansão da base. “A tendência de longo prazo é de diminuição das taxas, mas 2015 em si teve uma redução mais significativa em função, principalmente, de dois fatores: atividade econômica e alta das taxas de juros. Houve encarecimento do crédito ao longo de 2015 e isso impactou a expansão do mercado”, disse.
O técnico acrescentou que esse mercado, como um todo, já vinha mostrando moderação em anos anteriores. Em 2010, a expansão do mercado de crédito foi de 20,6% e, nos anos seguintes, as taxas de crescimento foram sempre menores: 18,8% em 2011; 16,4% em 2012; 14,5% em 2013 e 11,3% em 2014.
Ele salientou que dezembro seguiu mostrando desaceleração do crédito vista em meses anteriores e que tanto o saldo do crédito livre quanto o do direcionado tiveram expansão abaixo da média para o padrão de dezembro. No último mês de 2015, o estoque registrou alta de 1,5% ante elevação de 2,1% vista em dezembro de 2014. “A taxa agora cresceu bem menos, foi mais modesta”, resumiu, lembrando que, historicamente, nos meses de dezembro, em geral, o crédito cresce mais.
Crédito livre para empresas
Tulio Maciel afirmou que o crédito livre para empresas foi o único que apresentou expansão na comparação com 2015, passando de uma alta de 3,8% para 4,8% frente a 2014. “O que puxou o crédito das empresas em 2015 foram modalidades associadas a comércio exterior”, explicou.
Ele relatou ainda que a modalidade de capital de giro é um termômetro da atividade e que pela primeira vez na série histórica do BC apresentou recuo em um ano, queda de 3,5%. Maciel ponderou, no entanto, que o crédito para pequenas empresas com uso do FGTS mitigou riscos em 2015.
SFN
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central disse que foi constatado no ano passado um aumento da procura de Pessoa Jurídica por renegociar seus empréstimos com o Sistema Financeiro Nacional (SFN). Ele fez essa avaliação a partir da coluna “outros” do quadro 5B na nota de crédito. Segundo ele, as informações contidas nesse segmento também tratam – ainda que não especificamente – de renegociação de financiamentos.
O documento traz que o saldo passou de R$ 80,366 bilhões para R$ 104,318 bilhões de 2014 para 2015, o que representa um avanço de 29,8% no ano. “Houve intensificação desse crescimento e atribuímos isso ao processo de mais renegociação. É um processo natural renegociar seus empréstimos, mas que foi mais intenso em 2015”, disse.
Crédito imobiliário
Ele afirmou que afirmou que o crédito imobiliário atingiu em dezembro do ano passado o equivalente a 9,7% do PIB. Em 2002, ressaltou Maciel, esse volume estava entre 1,5% e 2%.
A comparação foi utilizada por Maciel para explicar a desaceleração do crédito imobiliário. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, há por trás desse movimento um efeito base: o saldo das operações avançou expressivamente e, agora, a demanda diminuiu. Em 2010, essas linhas haviam subido 56%. No fim do ano passado, fecharam com alta de 16,8%.
Maciel argumentou que há também efeito do menor crescimento da renda e da mudança nas condições de crédito ao longo de 2015. “Hoje se financia uma parcela menor que em 2014, e isso impactou as operações em 2015. Tem uma diminuição de funding, mas ainda não foi restritiva. Os fundos não estão exauridos”, afirmou. Ele também observou que o crédito imobiliário acabou puxando as carteiras de crédito nos bancos públicos.
BNDES
Maciel atribuiu a uma combinação de fatores o arrefecimento do crédito por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2015. As causas são a atividade mais fraca, a menor demanda por crédito e as taxas mais elevadas em comparação ao ano anterior.
“No caso do BNDES, tem-se o nível de atividade menor, mas teve também mudança nas condições de empréstimos. As taxas médias dessas operações aumentaram. Em 2014, as taxas para investimentos encerraram em 7,1% ao ano e, agora (2015), terminaram o ano em 9,8%”, relatou.
Veículos
O representante do BC descartou a possibilidade de o segmento de consórcio de veículos estar ocupando a fatia de financiamentos realizados pelo setor financeiro, que apresentou novo tombo em 2015. “Não acredito que os consórcios estejam ocupando porque a queda de veículos no ano foi bastante pronunciada. Além disso, a participação de consórcio ainda é relativamente restrita”, observou, acrescentando que a nota de crédito não traz dados específicos sobre consórcios.
O volume de crédito do sistema financeiro com recursos livres no segmento de pessoa física teve alta de apenas 0,2% em dezembro ante alta de 5,5% vista em idêntico mês de 2014. “Já havia sido moderado e, este ano, ficou inferior ainda ao do ano passado”, comparou. De acordo com o técnico, esse segmento de financiamentos às famílias é altamente influenciado pelo empréstimos para aquisição de veículos e “ajuda a entender” a evolução desse segmento, já que há contração mais acentuada de veículos.
A queda de crédito para automóveis foi de 12,7% em 2015 na comparação com o ano anterior. “Esta é uma das modalidades que têm determinado a taxa de crescimento do crédito às famílias. Também o crédito consignado mostrou expansão menor, de 8,6% em 2015 ante 13,7% em 2014”, comparou. Ele salientou que o segmento de veículos para Pessoa Física é uma carteira importante no total de crédito, já que representa cerca de 20% dos créditos para as famílias.
Em 2010, o segmento de financiamento de carros cresceu 49%; avançou 26% em 2011, subiu 9% em 2012; ficou estável em 2013 e apresentou queda de 4,5% em 2014. Para o chefe de departamento, houve uma antecipação de demanda em função de pacotes econômicos anteriores. “A renda também influencia, mas essa antecipação teve impacto em 2014 e 2015. É um fator adicional”, observou.
Queda dos juros
Maciel explicou também que a queda dos juros vista em dezembro é sazonal. “Trata-se de um movimento típico de final de ano por causa do cheque especial, e ajuda a entender porque as taxas de juros caíram no fim do ano”, disse. Segundo ele, as pessoas recebem o 13º salário e saem do cheque especial, num movimento que ocorre todos os anos. “Infelizmente, ao longo do ano, isso acaba subindo”, disse.
No caso do rotativo do cartão de crédito, o movimento foi semelhante, mas com intensidade menor. “O que vemos com o cartão de crédito é que se a pessoa tem a oportunidade de se livrar de juro maior, é natural que ocorra. E isso acaba impactando taxa de juros média”, comentou.
Segundo ele, como o estoque do cheque especial cai e as taxas são bem mais elevada do que a média do sistema, a média geral cai. Trata-se, conforme Maciel, de um efeito composição.
Qualidade do crédito
Para Maciel, no momento, não há preocupação com a qualidade do crédito. Segundo ele, se houvesse uma discrepância, com o crédito crescendo mais que a renda, por exemplo, poderia haver preocupação. Ele também se mostrou otimista com 2016, mesmo com a possibilidade de aumento do desemprego. “Em períodos de aumento do desemprego, se espera que a taxa de inadimplência suba, mas ela tem evoluído bem e está bem comportada”, disse.
Maciel argumentou que o crédito como um todo apresentou moderação de “forma importante”. Na avaliação dele, os recursos direcionados apresentaram desaceleração que respondeu pela maior parte da moderação do crédito em 2015. “Agora, o crédito livre, desde 2014 cresce em ritmo historicamente baixo. Isso acompanha a evolução das taxas de juros, da atividade econômica e da renda. Há um aspecto benigno nisso, que é a evolução do crédito com qualidade”, afirmou.
Para exemplificar essa tranquilidade com a inadimplência, ele listou os dados de atraso de 15 a 90 dias. Entre novembro e dezembro, para empresas, houve recuo de 0,1 ponto porcentual. Para pessoas físicas, caiu 0,2 pp.