Estadão

Criada no Tocantins, Afya se torna líder no ensino de medicina no Brasil

Fundada pelos médicos Nicolau e Rosangela Esteves em 1997 no interior do Tocantins sob o nome NRE, a companhia de ensino de medicina Afya chegou a Wall Street com uma abertura de capital na Nasdaq 22 anos depois. Foi uma trajetória relativamente rápida, impulsionada por aquisições, e que ganhou velocidade ainda mais impressionante após o IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês). Nos últimos três anos, a empresa tornou-se a principal consolidadora do setor no País, investindo R$ 3,2 bilhões na compra de dez faculdades de medicina, que somam 1,5 mil vagas por ano.

A expansão está longe de chegar ao fim. A empresa promete adquirir instituições que garantam 200 novas vagas por ano para chegar a 4,5 mil em 2028. O número representa 15% do mercado de ensino de medicina do Brasil e um aumento de 50% na comparação com o volume de vagas atual. Hoje, a companhia possui cerca de 3 mil vagas para oferecer anualmente e 18,1 mil alunos de graduação.

"É um ritmo conservador de expansão, comparado com o que temos feito nos últimos três anos", diz o CEO, Virgilio Gibbon. Apenas na última operação, em outubro, a empresa comprou, por R$ 825 milhões, duas faculdades que oferecem, juntas, 340 vagas por ano. Foi a maior aquisição desde o IPO.

Hoje, a Afya atua não só com faculdades, mas também com cursos preparatórios para residência médica, pós-graduação e plataformas digitais que auxiliam o trabalho médico. A intenção da empresa é ter produtos para oferecer ao profissional durante toda sua carreira.

A estratégia tem sido vista como bem-sucedida no mercado financeiro. Nos nove primeiros meses deste ano, a empresa registrou alta de 38,2% na receita líquida ante o mesmo período de 2021, atingindo R$ 1,7 bilhão. Sem considerar as unidades de negócios adquiridas no período, o crescimento foi de 15,6%.

Dos nove bancos que cobrem a Afya, seis recomendam a compra de ações da empresa e três são neutros. "Ela se diferencia do restante das empresas de educação porque tem uma exposição muito acima da média ao curso de medicina, que é o mais rentável e sustentável no Brasil", diz o analista Vinicius Figueiredo, do Itaú BBA.

O ensino de medicina também tem se mostrado resiliente. Graduações de outras áreas sofreram durante a pandemia, devido a altos índices de evasão, e agora lutam para se adaptar a uma maior presença do ensino a distância, que tem margens mais elevadas, mas também maior desistência por parte dos alunos.

"Ainda que o custo de um curso de medicina seja alto, dado que exige investimentos em equipamentos e às vezes estrutura hospitalar, as mensalidades cobradas compensam. Sem dúvida, é a menina dos olhos de toda instituição", diz William Klein, CEO da consultoria da área de educação Hoper.

No caso da Afya, a média das mensalidades foi de R$ 9.351 de janeiro a setembro deste ano. No mesmo período de 2021, havia ficado em R$ 8.591. O aumento foi de 8,8%, ou 4,71 pontos porcentuais a mais do que o IPCA no período. Figueiredo, do Itaú BBA, destaca que a companhia é uma das poucas do setor de educação superior que tem conseguido repassar a inflação.

<b>GRUPO ALEMÃO.</b> Apesar de ter sido fundada no interior do Tocantins, a Afya hoje é controlada por um grupo alemão com 187 anos de história. A Bertelsmann é uma companhia originalmente de mídia – comanda, por exemplo, a gravadora BMG e a editora Penguin Random House. Há quase uma década, criou a unidade de educação.

Em maio deste ano, em uma transação de US$ 161 milhões, a Bertelsmann assumiu o controle da Afya. Hoje, o grupo alemão detém 37,5% das ações da empresa brasileira. A família Esteves ficou com 18% do capital.

O presidente do Bertelsmann Education Group, Kay Krafft, diz que a aposta na Afya reflete o caráter estratégico da educação na área de saúde, dado que o segmento tem uma empregabilidade maior do que a média e porque o setor privado tem participação significativa no ensino superior no Brasil.

Ainda que tenha se tornado controladora da Afya só agora, a Bertelsmann é parceira da empresa desde 2014, quando investiu na brasileira por meio de um fundo de private equity (que compra participações em empresas). "Essa experiência nos ajudou a formar uma visão da Afya que nos fez elevar a participação e nos tornarmos acionistas controladores. É uma evolução da parceria", diz Krafft.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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