Ziraldo faz 90 anos nesta segunda, 24. Nome essencial da literatura para crianças, mas não só, ele marcou e ajudou a formar gerações de leitores com livros como O Menino Maluquinho e Flicts e a série Os Meninos dos Planetas, todos no catálogo da Melhoramentos. Para o aniversário, há novidades, como lançamentos, também pela Melhoramentos, e homenagens, como a da Feira Literária de Tiradentes, em novembro.
O cartunista Edra convidou artistas e escritores, entre os quais Luis Fernando Verissimo e Ruth Rocha, para contar histórias vividas ao lado de Ziraldo e o resultado, em textos e imagens, pode ser conferido em 90 Maluquinhos por Ziraldo: Histórias e Causos.
Desde que foi lançado, em 1980, O Menino Maluquinho soma 18 edições, 165 reimpressões e 4,1 milhões de exemplares vendidos. Ao longo de sua história, virou filme, peça de teatro, musical e inspirou o autor a criar novos livros – houve até um encontro entre os personagens de sua história e os da Turma da Mônica. Na época do lançamento deste crossover, Ziraldo disse ao Estadão: "O Menino Maluquinho é o moleque típico brasileiro, que tem liberdade, é ousado, inteligente, esperto. É o moleque que eu gostaria de ter sido."
<b>A história de Ziraldo</b>
Nascido na cidade mineira de Caratinga em 1932, Ziraldo revelou seu talento ainda na infância. Aos 6 anos, publicou seu primeiro desenho – no jornal A Folha de Minas. Dez anos depois, ele se mudou para o Rio. Na mala, levou suas caricaturas, histórias em quadrinhos, cartazes políticos, ilustrações, contos e poesias. Naquela época, encontrou espaço para a publicação de seu trabalho em revistas como Coração, Sesinho, Vida Infantil e Vida Juvenil e O Malho.
Ziraldo voltou para Minas, se formou em Direito, retornou ao Rio, onde vive até hoje, começou a publicar regularmente na revista A Cigana e ingressou na revista O Cruzeiro Internacional. Seu personagem Saci-Pererê, que já aparecia em O Cruzeiro, ganhou uma turma, virou HQ e deu origem à Revista Pererê. Em 1969, ele publicou Flicts, seu primeiro livro para crianças – desde que entrou para o catálogo da Melhoramentos, em 1984, vendeu 500 mil exemplares.
Um dos fundadores do jornal O Pasquim, ao lado de Jaguar, Claudius e Sérgio Cabral, entre outros, que circulou entre 1969 e 1991, Ziraldo foi preso diversas vezes durante a ditadura militar.
<b>Os leitores de Ziraldo</b>
Quem cresceu no Brasil entre os anos 1970 e agora certamente leu Ziraldo e guarda alguma lembrança de suas histórias. O Menino Maluquinho, Flicts, O Bichinho da Maçã, Pelegrino e Petrônio, O Joelho Juvenal, os volumes da série Os Meninos dos Planetas, Chapeuzinho Amarelo (de Chico Buarque, que Ziraldo ilustrou)…
O escritor Marcelo Moutinho, de 50 anos, é fã de Flicts há muito tempo. "Eu tinha cinco anos e havia levado uma bronca da minha mãe, cujo motivo se dissipou no limbo da memória. Sandra, um das minhas irmãs mais velhas, então me levou até seu quarto. Lá, leu para mim a história de Flicts, a cor que não encontrava seu lugar no mundo. Quando ela dobrou a última página do livro, eu já não me sentia tão amuado. Em poucos minutos, minha vida se transformara. Eu me via como Flicts. Eu era Flicts. E buscava a implausível lua que pudesse, talvez, um dia me espelhar. Ali nascia um leitor", lembra. "Sandra, que já se foi, nunca teve noção do impacto daquela leitura tão despretensiosa na formação do irmão ainda criança – ele que, mais tarde, acabaria por se dedicar também a escrever histórias."
Mas tem também quem se aproxime por outros lados. "O Ziraldo que eu lia não era o Ziraldo da literatura infantil. Minha referência de Ziraldo é do cartunista, do cara do Pasquim (mesmo o jornal não sendo da minha época)", conta o ilustrador e autor de livros para a infância Alexandre Rampazo. Ele continua: "Meu vínculo com o Ziraldo é imagético, pela profunda admiração pelo traço ágil e esteticamente belíssimo. Eu me lembro quando eu super novinho e trabalhei numa exposição do Sesc como monitor. E entre idas e vindas nos "porões" do Sesc, me deparo com um original do Ziraldo. Segurando aquele original nas mãos fiquei pensando como ele conseguia fazer aquilo. Como?!" Então, finaliza o autor de Se eu Abrir Esta Porta Agora (Sesi-SP) e Silêncio (Rocquinho/Rocco), entre outros livros, "minha referência ziraldiana é essa, do artista da imagem e não do artista da palavra".
Lúcia Hiratsuka, uma das principais ilustradoras brasileiras e que lança, no fim do mês, Amanhã (Pequena Zahar), relembra um encontro que teve com o artista. "Tive a oportunidade de participar do programa ABZ do Ziraldo, em 2013. A conversa correu animada graças à generosidade do entrevistador, que se mostrou curioso em relação ao meu trabalho. Até pintei bambus com pincel e tinta improvisados. No dia seguinte, Ziraldo era o convidado da mesa no Salão FNLIJ do Livro Para Crianças e Jovens, e uma surpresa: ele comentou que vinha conhecendo ilustradores ótimos, citando meu nome e a entrevista. A mediadora me apontou na plateia, o auditório cheio, me bateu uma timidez. Ficou uma lembrança bonita de um momento bem especial.
<b>Os maiores sucessos de Ziraldo</b>
<b>O Menino Maluquinho (1980)</b>
Mais de 4,1 milhões de exemplares
<b>Uma Professora muito Maluquinha (1995)</b>
Mais de 500 mil exemplares
<b>Flicts (1984, pela Melhoramentos)</b>
Mais de 500 mil exemplares
<b>O Bichinho da Maçã (1982)</b>
Mais de 300 mil exemplares
<b>O Planeta Lilás (1984)</b>
Mais de 200 mil exemplares
<b>Menina Nina (2002)</b>
Mais de 140 mil exemplares
<b>O Menino Quadradinho (1989)</b>
Mais de 120 mil exemplares